Acordo Mercosul-União Europeia: o que é e o que muda para o Brasil? – Conjuntura Republicana Ed. nº 215

Acordo Mercosul-União Europeia: o que é e o que muda para o Brasil? – Conjuntura Republicana Ed. nº 215

Após mais de 20 anos de negociações, o Acordo Mercosul– –União Europeia voltou ao centro das discussões. Com potencial para ser o maior tratado comercial já firmado pelo Brasil, ele promete abrir mercados, atrair investimentos e estimular padrões mais modernos e sustentáveis de produção

O Mercosul, formado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, busca integrar os países sul-americanos por meio da livre circulação de bens e da adoção de tarifas comuns. Já a União Europeia, com 27 países, é a segunda maior economia do mundo e o segundo principal parceiro comercial do Brasil.

O acordo prevê a eliminação ou redução gradual de tarifas entre os dois blocos. Segundo o Itamaraty, até 91% das exportações do Mercosul terão isenção tarifária imediata, e 92% das importações europeias terão tarifas zeradas em até dez anos. Para o Brasil, os ganhos incluem maior competitividade de produtos como carne bovina, frutas e açúcar, acesso a um mercado exigente e a possibilidade de impulsionar o PIB em até R$ 500 bilhões nas próximas duas décadas.

Além do impacto econômico, o tratado deve atrair mais investimentos ao estabelecer regras comerciais claras. Áreas como infraestrutura, energia limpa e tecnologia tendem a se beneficiar. A exigência de padrões internacionais de qualidade e sustentabilidade pode impulsionar a modernização da produção e a imagem do Brasil no exterior.

No entanto, há entraves. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alertou que o projeto de lei em tramitação no Senado que flexibiliza o licenciamento ambiental pode comprometer as negociações. Segundo ela, o texto representa um retrocesso e ameaça a credibilidade ambiental do Brasil, construída com base no combate ao desmatamento e no cumprimento de acordos como o de Paris.

A União Europeia já vinha cobrando garantias ambientais mais robustas, e mudanças na legislação brasileira podem reforçar resistências internas em países como França e Irlanda. Com a COP30 prevista para ocorrer em Belém, no fim do ano, o Brasil precisa equilibrar interesses econômicos e compromissos ambientais para manter sua imagem internacional fortalecida.

Este acordo representa uma oportunidade histórica para reposicionar o Brasil no cenário global. Entretanto, seus avanços dependem da coerência entre discurso e prática: crescer economicamente sem abrir mão da proteção ambiental e da segurança jurídica. O futuro do acordo passa, sobretudo, pelas escolhas que o país faz hoje.

 

Texto: Danielle Salomão e Mariana Pimentel (Consultoras do CAM)

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