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COP30 no Brasil: como surgiram as conferências do clima e por que o país será sede

Diante da ameaça do aquecimento global, a Conferência das Partes (COP) tornou-se o principal fórum mundial de negociações climáticas. Agora, em meio a indicadores alarmantes de mudança do clima, o Brasil se prepara para sediar a COP30, levando o debate ao coração da Amazônia

 

Marcada para novembro de 2025, em Belém (Pará), a COP30 será a 30ª edição do maior evento climático das Nações Unidas, e a primeira realizada em uma cidade da região amazônica. Nesta reportagem, explicamos como surgiram as COP, por que se tornaram indispensáveis e o que levou à escolha do Brasil como sede desta edição histórica.  

Conferência das Partes (COP) surgiu do crescente alerta mundial sobre as mudanças climáticas. Em 1988, a ONU criou o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) para reunir evidências científicas sobre o aquecimento global. Poucos anos depois, durante a Eco-92, no Rio de Janeiro, líderes de todo o mundo assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), estabelecendo um pacto multilateral para conter o aquecimento do planeta.  

O acordo instituiu o princípio das “responsabilidades comuns, porém diferenciadas”, segundo o qual os países desenvolvidos devem liderar a redução das emissões e oferecer apoio financeiro e tecnológico às nações em desenvolvimento. 

Com a entrada em vigor da Convenção, em 1994, passaram a ocorrer as conferências anuais das Partes — as COP —, criadas para decidir e implementar os compromissos climáticos assumidos. Hoje, 198 países participam da UNFCCC, tornando-a um dos maiores pactos multilaterais da ONU. Nessas cúpulas, governos negociam metas de redução de gases de efeito estufa, estratégias de adaptação aos impactos climáticos e formas de financiamento e transferência de tecnologia que viabilizem a ação climática global. 

Em 1997, a COP3 resultou no Protocolo de Quioto, que fixou metas obrigatórias de redução de emissões para países desenvolvidos, cerca de 5%, em média, até 2012, em relação aos níveis de 1990, e criou mecanismos de mercado para facilitar o cumprimento dessas metas.  

Anos depois, a COP21, realizada em 2015, aprovou o Acordo de Paris, que envolveu todos os países na adoção de metas nacionais para manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C, com esforços para limitá-lo a 1,5°C. Desde então, as COP ampliaram sua agenda. Além dos cinco pilares (mitigação, adaptação, financiamento, tecnologia e capacitação), ganharam destaque temas como perdas e danos, transição justa, igualdade de gênero, direitos dos povos indígenas e participação da juventude. 

A crise climática em números 

Décadas de evidências científicas motivaram a criação das COP, e os indicadores atuais reforçam a urgência de agir. O planeta já aqueceu cerca de 1,1°C desde a era pré-industrial. Em 2024, a temperatura média global atingiu aproximadamente 1,55°C acima dos níveis pré-industriais (possivelmente o ano mais quente já registrado), ultrapassando o limite simbólico de 1,5°C previsto no Acordo de Paris. Os últimos dez anos figuram entre os dez mais quentes já observados, confirmando a tendência de aquecimento global.  

A principal causa está no aumento das concentrações de gases de efeito estufa. Em 2023, a concentração de dióxido de carbono (CO₂) na atmosfera atingiu 151% do nível pré-industrial, superando 420 partes por milhão.  

Segundo a Organização Meteorológica Mundial, não se trata apenas de “um ou dois anos recordes, mas de uma sequência de dez anos de calor excepcional”, acompanhada por eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, todos impulsionados pelas emissões humanas. Essa tendência torna cada vez mais difícil evitar os piores cenários da mudança do clima, a menos que os países promovam reduções profundas e rápidas nas emissões nos próximos anos. 

Por que no Brasil?  

A escolha do Brasil como sede da COP30, no corrente ano, tem fundamentos diplomáticos e estratégicos. A presidência da COP se alterna entre as cinco regiões geográficas da ONU, e nesta edição cabia à América Latina receber o evento. Nesse contexto, o governo brasileiro manifestou interesse em sediar a conferência como parte de seu retorno ao protagonismo climático global, reforçando o compromisso com o multilateralismo e com a plena implementação do Acordo de Paris.  

Além de dar voz à Amazônia, sediar a COP30 representa uma oportunidade para o Brasil demonstrar liderança e cobrar compromissos mais ambiciosos da comunidade internacional. Um dos principais pontos da pauta brasileira é o financiamento climático: desde 2009, países desenvolvidos prometeram US$ 100 bilhões anuais para apoiar nações em desenvolvimento na proteção de florestas e adaptação aos impactos climáticos — promessa ainda não cumprida. Hoje, estima-se que seriam necessários mais de US$ 1 trilhão por ano. 

O Brasil pretende pressionar por um financiamento mais justo e por transições energéticas equilibradas, além de apresentar iniciativas nacionais em energia limpa e combate ao desmatamento. Assim, a COP30 em Belém colocará o país no centro das discussões climáticas globais, reafirmando seu papel histórico, desde a Eco-92, na busca por soluções coletivas para a crise do clima. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB 

Crédito da imagem: Divulgação/cop30.br 

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