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Empregos verdes crescem no Brasil e apontam caminhos para um futuro sustentável

Setores como energia limpa, economia circular e agricultura regenerativa puxam uma revolução silenciosa no mercado de trabalho e desafiam o país a investir em formação e inclusão social

No mundo todo, cresce o número de chamados “empregos verdes”, atividades profissionais que contribuem para a preservação ou restauração do meio ambiente, enfrentando as mudanças climáticas e promovendo o uso sustentável dos recursos naturais. No Brasil, essa realidade já está em curso: mais de 3 milhões de empregos formais estão direta ou indiretamente vinculados à economia verde, o que corresponde a cerca de 6,6% dos vínculos com carteira assinada no país. 

De acordo com estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), até 2030, os empregos verdes poderão gerar 24 milhões de novas vagas no mundo, sendo mais de 7 milhões na América Latina, com o Brasil em posição de destaque. Esse avanço ocorre em um cenário de transição energética e econômica global, que exige soluções capazes de conciliar crescimento econômico, justiça social e sustentabilidade ambiental. 

O que são empregos verdes? 

Segundo a OIT, são ocupações que contribuem para a redução do impacto ambiental das atividades econômicas, seja por meio da mitigação de emissões de gases do efeito estufa, do uso eficiente de energia e matérias-primas ou da proteção à biodiversidade. Esses empregos podem estar tanto em setores tradicionais, como agricultura, construção civil e transporte, quanto em áreas em expansão, como energia renovável, reciclagem, reflorestamento e mobilidade elétrica. 

A energia limpa é um dos principais impulsionadores dessa transformação. O Brasil, cuja matriz energética é majoritariamente renovável, tem se destacado na geração de empregos em usinas solares, eólicas e de biomassa. Outros setores que vêm expandindo significativamente a demanda por profissionais são a economia circular, com foco em reciclagem, manutenção e reaproveitamento de resíduos, e a agricultura de baixo carbono, que alia produtividade à recuperação de solos e florestas. 

Panorama nacional 

Um relatório recente do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) indica que o Brasil já concentra cerca de 10% dos empregos verdes do mundo, com destaque para áreas como saneamento básico, reflorestamento, infraestrutura urbana sustentável e transporte público eficiente. No entanto, o país ainda enfrenta desafios significativos. Um estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revela que, embora essas ocupações apresentem maior qualificação e melhores salários, ainda há reprodução de desigualdades de gênero e raça: homens brancos predominam em cargos técnicos e de liderança, enquanto homens negros não possuem o mesmo destaque. Também há desequilíbrios regionais. Enquanto Sul e Sudeste concentram empregos ligados à manufatura verde e à inovação tecnológica, Norte e Centro-Oeste se destacam nas áreas de energia renovável e preservação florestal. Já o Nordeste tem se destacado em iniciativas de gestão de resíduos e saneamento básico, especialmente em cidades de médio porte. 

Formação e políticas públicas 

Para ampliar a presença do Brasil no mercado global de empregos verdes, especialistas apontam medidas que envolvem tanto o setor público quanto a iniciativa privada. Entre as ações prioritárias estão: investimentos em infraestrutura verde, como transporte elétrico e eficiência energética; incentivos fiscais a empresas com práticas ESG (ambientais, sociais e de governança); expansão de programas de qualificação profissional voltados a jovens e trabalhadores em transição de carreira; e apoio à inovação em pequenas e médias empresas com foco em soluções ambientais escaláveis. Um exemplo de política nesse sentido é o Programa Nacional de Crescimento Verde, lançado pelo governo federal, que prevê até R$ 400 bilhões em financiamentos nos próximos anos. No entanto, a execução efetiva e o foco regionalizado ainda são pontos que exigem atenção. 

Mais do que uma tendência setorial, os empregos verdes representam uma nova lógica de desenvolvimento. Conectam sustentabilidade à justiça social, ciência à empregabilidade e responsabilidade ambiental à inovação. Para um país como o Brasil, com vasta biodiversidade, abundância de recursos naturais e profundas desigualdades, investir nessa agenda é mais do que uma urgência ambiental: é uma oportunidade estratégica de inclusão e progresso. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP 

Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB 

Crédito da Imagem: Internet 

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