Apesar do tarifaço, o governo tem conseguido se fortalecer politicamente ao explorar o discurso da soberania nacional como estratégia para reorganizar sua base e recuperar pautas. As tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros vêm sendo tratadas como uma oportunidade para reforçar essa narrativa
A retórica da soberania nacional tem sido acionada para reposicionar o Planalto após um semestre marcado por baixa popularidade e fragilidade na articulação com o Congresso, com travas em pautas prioritárias e crescente desgaste da base aliada. Nesse cenário, a insistência da oposição em incluir na pauta a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro dificultou ainda mais a tramitação de projetos do Executivo.
A imposição das tarifas deu novo fôlego à narrativa de “nós contra eles”, que, após a derrota do IOF no Congresso, agora se volta para um inimigo externo. Essa mudança de foco permite ao governo reforçar sua imagem como defensor dos interesses nacionais e reativar o discurso de patriotismo.
Essa estratégia ficou clara na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Conselhão), em 5 de agosto. O encontro serviu como palco para criticar a política tarifária dos EUA e reafirmar o compromisso do governo com a soberania nacional, marcando seu reposicionamento político.
Com a imagem fortalecida, o governo tenta retomar pautas importantes e reconstruir sua articulação com o Congresso. Um exemplo é o PL 2.159/2021, que altera as regras do licenciamento ambiental e expôs divergências internas ao deixar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, isolada.
Com o prazo de sanção ou veto se encerrando em 8 de agosto, o governo busca negociar ajustes no texto para evitar novas crises.
Além disso, cresce a expectativa de reabertura do diálogo com os presidentes da Câmara e do Senado para garantir a votação de projetos estratégicos. Assim, o governo usa a situação externa para reorganizar sua base, rearticular a agenda e recuperar protagonismo neste segundo semestre.