Diante de sucessivas crises e de uma queda expressiva na popularidade presidencial, o governo federal tem adotado uma estratégia baseada na polarização, estruturada na dicotomia “nós contra eles”
A mudança de tom, intensificada após uma série de derrotas no Congresso Nacional, busca conter a erosão da imagem presidencial e reconectar o governo à sua base social historicamente mobilizada pelo PT, especialmente com foco nas eleições de 2026.
Nesse contexto, o Executivo tem construído uma narrativa em que se posiciona ao lado da população, justificando seus gastos excessivos como medidas sociais redistributivas. Em contrapartida, acusa o Congresso de representar interesses empresariais e de defender uma agenda de austeridade fiscal.
A estratégia visa reforçar a imagem do governo como promotor da justiça social e agente de transformação do Brasil em um país mais justo. Propostas como a taxação dos mais ricos e o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda ilustram essa linha de atuação.
No entanto, essa abordagem tem enfrentado resistência. Uma pesquisa recente do instituto Genial/Quaest indica que 51% dos deputados federais avaliam como péssima a relação entre o Executivo e o Legislativo, enquanto 57% dos parlamentares acreditam que o governo tem poucas chances de aprovar sua agenda no Congresso.
A oposição critica a postura do governo, classificando-a como desesperada e ineficaz, e acusa o governo de tentar desviar a atenção de problemas concretos e justificar um possível aumento da carga tributária sobre a população.
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos/PB), um dos principais críticos dessa retórica, afirmou que, ao fomentar a lógica do “nós contra eles”, o governo “acaba governando contra todos”.
Diante desse cenário, cresce a expectativa de que o relacionamento entre os Poderes se torne ainda mais conflituoso, com tendência à judicialização das disputas políticas.
A recente decisão do governo de acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar reverter a derrubada do decreto que reajustava o IOF, imposta pelo Congresso, exemplifica essa disposição de recorrer ao Judiciário como instrumento de enfrentamento. A medida evidencia não apenas o agravamento das tensões entre os poderes, mas também a fragilidade da articulação política do governo.