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Libras: linguagem de inclusão e desafio de acessibilidade no Brasil

Criada a partir de influências estrangeiras e consolidada como meio de comunicação para pessoas surdas, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é essencial para garantir a inclusão e a acessibilidade, refletindo diretrizes internacionais de educação e políticas públicas nacionais

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) é a principal forma de comunicação das pessoas surdas no Brasil. Suas origens remontam ao Séc. XIX, quando o educador francês Ernest Huet trouxe para o país a Língua de Sinais Francesa (LSF), que, ao longo do tempo, mesclou-se com gestos utilizados por comunidades surdas locais. Esse processo resultou na formação de um sistema linguístico próprio, com gramática e estrutura independentes do português. 

O reconhecimento oficial da Libras ocorreu em 2002, por meio da Lei nº 10.436, que estabeleceu a língua de sinais como um meio legítimo de comunicação no Brasil. A partir disso, diversas políticas públicas foram implementadas para garantir a acessibilidade de pessoas surdas, incluindo a obrigatoriedade de intérpretes em órgãos públicos e programas educacionais específicos. 

Inclusão – A adoção da Libras não se restringe apenas ao campo educacional, mas se estende ao mercado de trabalho e às interações sociais. Empresas que promovem a acessibilidade e contratam funcionários surdos ampliam suas possibilidades de inovação e diversidade. Entretanto, a inclusão profissional dessas pessoas ainda enfrenta desafios, como a ausência de intérpretes em reuniões e treinamentos e a falta de capacitação de gestores e colegas de trabalho, até mesmo de profissionais capazes de realizar a seleção de candidatos PDC. “Não dá para ser qualquer recrutador. A pessoa precisa de um mínimo de letramento para fazer uma entrevista com atenção aos detalhes e acolhimento”, explica Lilian Giorgi, diretora sênior de RH da Alvarez & Marsal em entrevista para o portal cajuína.org.  

No âmbito social, a Libras permite que pessoas surdas tenham autonomia na comunicação, evitando situações de isolamento e marginalização. O acesso a serviços básicos, como saúde e segurança, depende cada vez mais da presença de profissionais capacitados para atender esse público, o que reforça a necessidade de investimentos contínuos em políticas de acessibilidade. 

Políticas Públicas – Nos últimos anos, diversas iniciativas governamentais foram criadas para fortalecer a inclusão de pessoas surdas na sociedade. A Política Nacional de Educação Especial, por exemplo, incentiva a formação de professores bilíngues e a presença de intérpretes nas escolas. Além disso, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei n.º 13.146/2015) estabelece diretrizes para garantir o acesso dessas pessoas aos mais diversos espaços e serviços. 

Apesar dos avanços, a implementação das políticas públicas ainda enfrenta obstáculos, como a falta de recursos para a formação de profissionais especializados e a ausência de fiscalização rigorosa em setores que deveriam garantir a acessibilidade. O avanço tecnológico, com a criação de aplicativos de tradução automática para Libras, tem se mostrado uma alternativa promissora para complementar essas iniciativas e ampliar a comunicação entre surdos e ouvintes. 

ODS – A promoção da Libras está diretamente relacionada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 4 da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata da educação de qualidade. A meta 4.5 estabelece a necessidade de eliminar desigualdades na educação, garantindo a acessibilidade de grupos vulneráveis, incluindo pessoas com deficiência. Dessa forma, a inclusão da Libras nas escolas e universidades representa um avanço para o cumprimento desse compromisso global, contribuindo para a construção de uma sociedade mais equitativa e diversa, conforme afirma Dra. Agdamar Affini Suffredini, pró-reitora acadêmica da UNIRP, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. “Desde 2006, quando definimos nosso PDI (Plano de Desenvolvimento Institucional), incluímos a disciplina de Libras em todas as grades de aula de todos os cursos de nossa Instituição. Além disso, quando temos algum aluno com deficiência auditiva, incluímos um intérprete exclusivo para ele em todas as aulas”, ressalta Agdamar. 

A democratização do ensino de Libras e a formação de profissionais capacitados são passos essenciais para que a língua de sinais se torne um recurso cada vez mais presente nos diferentes setores da sociedade. Ao garantir o direito à comunicação das pessoas surdas, o Brasil avança na construção de um país mais acessível e inclusivo para todos. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP  

Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB   

Imagem: Giovanni Seabra 

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