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Neurodiversidade e educação especial abrem novos caminhos para a inclusão no Brasil

Concebidos no movimento pelos direitos das Pessoas com Deficiência, os conceitos de neurodiversidade e neurodivergência ganham espaço nas práticas educativas, da infância à vida adulta, e desafiam o país a consolidar uma educação verdadeiramente inclusiva 

Nos últimos anos, os meios de comunicação e a internet têm dado maior visibilidade a dois termos ainda pouco conhecidos pelo público em geral: neurodiversidade e neurodivergência.  

O termo neurodiversidade foi cunhado em 1998 pela socióloga Judy Singer e popularizado por Harvey Blume, para defender que diferenças neurológicas, como autismo, TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) e dislexia, são variações naturais do cérebro humano, e não distúrbios a serem “curados”. Esse paradigma nasce do movimento das Pessoas com Deficiência e se alinha ao modelo social da deficiência, que identifica nas barreiras sociais os principais obstáculos à inclusão.  

Já a neurodivergência refere-se a indivíduos cujas funções neurocognitivas diferem dos padrões majoritários, abrangendo condições como TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH, dislexia, ansiedade e transtornos de humor e personalidade. Em síntese: a neurodiversidade é o conceito amplo; a neurodivergência, a referência aos sujeitos que apresentam essas diferenças. 

Diante disso, surge a questão: como a educação especial acolhe essas pessoas?  

No Brasil, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), respaldada pela Lei Brasileira de Inclusão (LBI), de 2015, determinou que as escolas regulares ofereçam Atendimento Educacional Especializado (AEE), com recursos adaptados, salas multifuncionais e professores capacitados. Esse atendimento vai além da infância: cada vez mais adultos têm se reconhecido como neurodivergentes, buscando apoio por meio de terapias, tecnologias assistivas e redes de suporte. 

Muitos, por exemplo, que descobrem TDAH ou TEA apenas na vida adulta relatam sensação de identidade e alívio. Eles passam a ter acesso a grupos terapêuticos, adaptações em contextos profissionais e acadêmicos e a direitos assegurados por lei, como ajustes no trabalho e na universidade, avanços possibilitados pela recente legislação inclusiva brasileira. 

Nesse cenário, instituições de ensino também têm sido chamadas a repensar suas práticas. A inclusão de neurodivergentes requer currículos flexíveis, uso de recursos visuais, pausas sensoriais e acompanhamento individualizado. Universidades públicas vêm implementando políticas de acessibilidade universal, com tecnologias assistivas e suporte contínuo. O Instituto Rodrigo Mendes (https://institutorodrigomendes.org.br) é exemplo de entidade que capacita professores e gestores em práticas inclusivas, impactando milhões de educadores e estudantes. Contudo, a realidade brasileira revela grandes lacunas: muitas escolas carecem de materiais adaptados, equipes multidisciplinares e condições acessíveis; diagnósticos em adultos são insuficientes; e preconceitos enraizados dificultam o reconhecimento da neurodiversidade como valor social. 

Inclusão 

Para que a inclusão de pessoas neurodivergentes avance no sistema educacional brasileiro, especialistas indicam três frentes prioritárias. A primeira é ampliar a formação continuada de docentes e equipes escolares, com foco em práticas pedagógicas afirmativas e sensíveis à diversidade neurocognitiva. A segunda é fortalecer a rede de diagnóstico e atendimento, sobretudo para adultos, assegurando acesso a profissionais como psicólogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. A terceira consiste em incorporar os princípios da neurodiversidade aos currículos escolares, promovendo uma cultura de respeito, empatia e valorização das diferentes formas de pensar, aprender e interagir. 

Reconhecer que os cérebros funcionam de maneiras diversas, muitas vezes não lineares, não apenas acolhe os neurodivergentes, mas enriquece toda a comunidade escolar, tornando-a mais sensível, criativa e plural. Assim, a educação cumpre sua vocação democrática e reafirma-se como espaço de pertencimento para todos. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB

Crédito da imagem: Internet

 

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