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Quanto tempo dura cada resíduo na natureza e por que isso importa para o futuro do planeta?

De fraldas descartáveis a embalagens de vidro, resíduos do consumo moderno podem permanecer por séculos no meio ambiente. Conhecer esses prazos é o primeiro passo para a mudança

 

Nosso lixo tem memória e, em muitos casos, longevidade. Produtos que usamos por minutos ou horas podem permanecer séculos ou até milênios no meio ambiente, causando danos quase irreversíveis à biodiversidade, aos oceanos e ao clima. A decomposição de resíduos varia enormemente, dependendo do tipo de material, das condições ambientais e da forma de descarte. Mas os números impressionam e lançam um alerta sobre a urgência de revermos nossos padrões de consumo e descartes. 

O caso mais extremo é o do vidro. Presente em garrafas, potes e embalagens, esse material pode levar entre 4 mil anos e até 1 milhão de anos para se decompor na natureza. Isso significa que qualquer pedaço de vidro descartado hoje pode ainda estar intacto quando civilizações futuras visitarem ruínas do nosso tempo. Logo atrás estão as garrafas plásticas (PET), amplamente utilizadas em bebidas e produtos de limpeza. Estima-se que levem de 200 a 600 anos para desaparecer, tempo durante o qual se fragmentam em microplásticos que contaminam a água, o solo e entram na cadeia alimentar, afetando peixes, animais terrestres e até seres humanos. 

Outro vilão persistente são as fraldas descartáveis, que combinam plástico, gel absorvente e fibras sintéticas. Seu tempo de decomposição varia de 450 a 600 anos, e a maioria ainda é descartada de forma inadequada, acumulando-se em lixões a céu aberto e liberando poluentes orgânicos e microplásticos. 

Mesmo resíduos muitas vezes vistos como recicláveis, como a lata de alumínio, têm decomposição longa: 100 a 500 anos. Apesar de serem 100% recicláveis, milhões de latas ainda acabam no lixo comum, sem reaproveitamento. Já produtos como filtros de cigarro e chicletes, frequentemente descartados em calçadas e praias, podem levar de 2 a 5 anos para se decompor. Pequenos e aparentemente inofensivos, eles concentram toxinas que poluem cursos d’água e matam peixes e aves. 

Entre os resíduos de menor tempo de decomposição estão o papel e papelão, que duram de 2 semanas a 4 meses, dependendo da composição e do ambiente. Mesmo assim, quando descartados em locais anaeróbios como aterros sanitários, podem liberar gás metano, um potente gás de efeito estufa. Materiais têxteis naturais, como o algodão, e produtos de madeira não tratada se decompõem em 6 meses a 1 ano, mas sua produção e descarte em larga escala ainda têm impactos socioambientais. 

Por que isso importa?
Os números mostram que o lixo não é apenas um problema estético ou logístico. Ele representa uma ameaça duradoura à vida no planeta. Quanto maior o tempo de decomposição, maior o risco de contaminação, ocupação de espaço em aterros e emissão de poluentes. E mesmo os resíduos que somem mais rapidamente, quando acumulados, também se tornam vetores de doenças, poluição e desequilíbrio ecológico. Diante disso, cresce o movimento global por políticas públicas de controle de resíduos, com foco na logística reversa, educação ambiental, banimento de plásticos de uso único e incentivo à economia circular. Países como Alemanha, Canadá e Japão têm implementado legislações rigorosas para reduzir o impacto do lixo, aumentar as taxas de reciclagem e promover alternativas biodegradáveis. Já o Brasil, com seus desafios de saneamento e desigualdade, precisa acelerar esse debate. Leis como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n.º 12.305/2010) já estabelecem diretrizes para gestão adequada de resíduos, mas a execução ainda é falha em muitas regiões. Além disso, o avanço da cultura do descarte rápido e do consumo descartável agrava o problema. 

Certas atitudes cotidianas têm o poder de transformar a relação que temos com o lixo e o meio ambiente. Reduzir o consumo de embalagens e produtos descartáveis é um primeiro passo essencial para diminuir a geração de resíduos. Separar corretamente o lixo seco e úmido facilita a reciclagem e evita a contaminação de materiais reaproveitáveis. Participar de iniciativas de reciclagem e compostagem comunitária fortalece o senso de responsabilidade coletiva e contribui para o ciclo sustentável dos resíduos. Além disso, é fundamental que cidadãos cobrem de empresas e do poder público ações concretas para a redução, coleta e reaproveitamento dos materiais descartados. Pequenas escolhas individuais podem gerar grandes impactos ambientais quando praticadas em escala. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP 

Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB 

Crédito da Imagem: Freepik  

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