A eleição presidencial deste ano será apenas a sétima desde a reabertura democrática, em 1989. Se considerarmos somente os pleitos realizados em condições de liberdade e com a participação da maioria da população apta, esta será a décima primeira vez que iremos às urnas em 500 anos de história. Só para termos um parâmetro, os Estados Unidos, que possuem mais ou menos a mesma idade do Brasil, já realizou 57 eleições presidenciais.
Por isso, não é exagero afirmar que o Brasil vivencia a sua infância ou, na melhor das hipóteses, a sua adolescência democrática. Na prática, isso significa que ainda nos será exigido um certo nível de aprendizado até que alcancemos um ponto onde as políticas públicas sejam, de fato, completamente orientadas pelo e para o cidadão.
O amadurecimento não se refere apenas aos políticos e às instituições. Ele compreende principalmente o cidadão e passa pela a assimilação de alguns preceitos fundamentais. O primeiro é saber que o preço de um bom governo é a eterna vigilância. O segundo é entender que não há soluções mágicas. Todo avanço só vem com planejamento, muito trabalho e tempo de maturação. O último é compreender que a democracia é um eterno jogo de tentativa e erro: ao longo das eleições, elegemos pessoas boas e ruins. Para que ele funcione, temos que estar permanentemente tentando separar o joio do trigo. A qualidade da nossa política depende de um serviço bem feito nesse campo.
Não à toa, acreditamos que democracia rima com educação. Não apenas o ensino formal, mas também a construção e a disseminação de um conhecimento específico, ligado ao processo de convivência política, à gestão pública e à transparência é fundamental para termos uma população politicamente produtiva.
A passagem da adolescência para a maturidade política só acontecerá ao custo de muita luta, discussão, grandes decepções e pequenas vitórias, exatamente como acontece na vida. Nesse meio do caminho, as instituições deverão evoluir, se democratizarem e constituírem menos como clubes de privilégios e mais como organizações abertas, prestadoras de serviços públicos. Até lá, há um longo caminho. Mas a distância não desestimula se estivemos, na nossa maioria, comungando da convicção democrática. Nos EUA, eles chamam isso de religião cívica. E aqui, do que chamaremos?
Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira