O mundo parece ter acordado para o impacto da internet como meio de comunicação apenas há pouco tempo. Acontecimentos políticos recentes, como a eleição norte-americana de 2016, que levou Donald Trump ao poder, bem como o círculo de notícias falsas que pairavam durante “Brexit”, plebiscito que definiu a saída do governo britânico da União Europeia, impulsionaram a atenção das autoridades para os riscos das fake news. Inclusive, nas eleições de 2016 dos EUA foi divulgado até que o Papa Francisco estava apoiando a candidatura de Donald Trump. A intensidade do impacto dessas notícias para ambos os casos ainda é algo questionável e difícil de ser mensurado, mas é inegável que uma informação inventada pode influenciar a opinião das pessoas. Todavia, a cultura de criar falsos episódios e boatos com o objetivo de manipular o senso crítico dos eleitores compõe uma estratégia antiga.
Para comprovar que a utilização das fake news não é fato novo, vale a pena observar as eleições de 1989, que inclusive são apontadas por alguns especialistas como um estilo de candidatura que pode se assemelhar ao processo eleitoral de 2018, formado por muitos candidatos à presidência e com plataformas ideológicas diferenciadas. Durante a campanha de 1989, por exemplo, a equipe de marketing do candidato Collor usou uma entrevista com a ex-namorada do ex-presidente Lula acusando-o de incentivar o aborto de sua filha. Além disso, o Brasil de 1989 não é o mesmo de hoje. Naquela época a população dependia muito da televisão para se informar e atualmente a internet tem tomado o espaço da TV. Mas ainda nessa disputa, a grande mídia utilizou-se do monopólio privado para intervir no resultado das eleições.
O grande problema é que a criação de notícias falsas sempre existiu. No entanto, a era da informação fez com que seu impacto se tornasse muito mais intenso. A cada clique e compartilhamento de mensagens em redes sociais e em grupos de aplicativos abre-se a oportunidade para que muitas acessem notícias manipuladoras. Cabe ressaltar que não configurara-se a criação de nova estratégia como muitos afirmam, mas apenas aplicação de técnica que foi potencializada com a utilização em massa da internet.
Porém, nem todos sabem ao certo como diferenciar uma notícia falsa de uma verdadeira. E o pior, sem ter certeza da credibilidade das fontes que veicularam aquele conteúdo, acabam repassando a informação a terceiros que também retroalimentam o ciclo – e dessa forma, as ditas fake news viralizam na rede. Em uma pesquisa survey, intitulada “A cara da democracia”, realizada em março de 2018 pelo Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação – INCT, que ouviu 2.500 pessoas nas diferentes regiões do país, adicionou-se a seguinte pergunta no questionário: “Você tem recebido notícias sobre política que desconfia serem falsas?”. Para a surpresa dos pesquisadores, apenas 23,9% dos entrevistados afirmaram desconfiar das informações que recebem, uma proporção muito baixa para a percepção desse fato, que, como mencionado, não é nada novo.
É bem provável que essa baixa percepção esteja relacionada ao desconhecimento do que realmente sejam fake news. Portanto, seguem algumas dicas para quem quer se manter informado e ao mesmo tempo não deseja tornar-se alvo de manipulações. O primeiro passo é sempre checar a fonte de quem publicou a matéria. As fake news geralmente são produzidas por mecanismos robôs que editam milhares de notícias inverídicas por dia. Portanto, um fator que serve como alerta é a presença de erros grotescos de ortografia e formatação nessas matérias, o que destoa bastante daquilo que estamos acostumados usualmente.
Um cidadão atento deve ter o faro sensível, por isso é sempre importante desconfiar do portal que divulgou aquela notícia antes de compartilhá-la. Portais com nomes desconhecidos ou de baixa reputação devem deixar o eleitor “de orelhas em pé”. Assim, uma dica é priorizar veículos de comunicação com alta credibilidade, portais que já possuam uma tradição em transmitir esse tipo de informação. Outro conselho é tomar cuidado com conteúdos apelativos e sensacionalistas. O que movem as fake news são aquelas novidades bombásticas que geram escândalos. Além de todos os cuidados já mencionados, existem alguns recursos que podem auxiliar as pessoas que estão na dúvida sobre confiabilidade de um conteúdo.
Uma atitude que deveria se tornar um hábito para todos nós é sempre pesquisar no Google a disseminação da informação. Inclusive, na ferramenta Google Notícias é possível identificar se uma notícia é falsa por meio de seu motor de buscas. Além disso, o portal www.boatos.org costuma desmistificar as principais informações falsas anunciadas na internet.
Acessem nosso canal no Youtube e confiram o vídeo em que abordei o tema.
Renato Junqueira – presidente da Fundação Republicana Brasileira