Mais de ano se passou e lá no início de 2020, apenas ouvíamos falar da Covid-19 que se alastrava pela China e arredores. Aquilo que parecia tão distante tornou-se uma realidade, quando o governo decidiu repatriar brasileiros que estavam em Wuhan, grande epicentro da disseminação da doença, que ainda chamamos de epidemia.
O tempo foi passando e, em 12 março de 2020, o Ministério da Saúde confirmou a primeira morte pela Covid-19 no Brasil. Uma mulher de 57 anos do estado de São Paulo teve seus sonhos interrompidos por causa do vírus. Nesse mesmo mês, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que vivíamos a pandemia da Covid-19. Rapidamente, medos e incertezas tomaram conta do nosso dia a dia.
No final do mês de abril, o Brasil já computava mais de 6 mil mortos e vários estados começaram a cobrar o uso obrigatório da máscara. Mais uma vez, o povo brasileiro com sua facilidade em adaptação em cenários diversos deu um show confeccionando suas próprias máscaras. Há quem diga que as máscaras mais coloridas e engraçadas são aqui do Brasil. Na verdade, o grande objetivo naquele momento era não deixar faltar máscaras cirúrgicas nos hospitais e além disso, se proteger das gotículas em dispersão. Mas, ainda sim, faltaram equipamentos de proteção individual (EPI) em hospitais públicos de várias regiões do país.
O tempo foi passando e fomos aprendendo a vivenciar coisas que jamais imaginamos, como o período de lockdown e as medidas restritivas do comércio. A busca por um remédio que combatesse a doença transformou-se em um alvo constante. Logo surgiram comentários de que a Ivermectina, um antiparasitário também utilizado para combater o piolho, ajudaria na luta contra a Covid-19. Mesmo sem eficácia comprovada, o valor da droga quase triplicou de preço e o resultado foi que o remédio sumiu das prateleiras. Certamente pacientes que realmente necessitavam desse fármaco ficam à mercê ou tiveram que pagar um valor bem mais caro para tê-lo.
Mais tarde, bastou o surgimento de notícias quanto ao uso da Cloroquina e da Hidroxicloroquina em pesquisas de combate a Covid-19 para que muitos quisessem comprá-las. De fato, muita gente nem sabia a função desses medicamentos, mas queria tê-los como medida de prevenção, a ponto de a Anvisa solicitar que a receita desses medicamentos tivesse controle especial para não minar os estoques.
Há poucas semanas o Brasil presenciou o início da tão esperada vacinação. Essa é, sem sombra de dúvidas, uma pequena luz no fim do túnel. Grupos de prioridade foram definidos, começando pelos profissionais de saúde e posteriormente, idosos maiores de 80 anos. No entanto, o que não faltam são escândalos de pessoas que estariam fraudando essa fila. Em Manaus, estado que tem experimentado um amargo colapso dos serviços públicos de saúde, autoridades são investigadas pela justiça por furar a fila de prioridade. De acordo com matéria do Portal G1, sobre o levantamento dos Ministérios Públicos estaduais e a Ouvidoria Nacional do órgão, o Brasil já contabilizou 4,7 mil denúncias de ações de fura-filas desde o início da vacinação.
Não há desculpas que justifique tais fraudes, este ato em si é indefensável. É muito triste saber que mesmo sofrendo os diferentes impactos da pandemia, para muitos parece não ter havido nenhum efeito pedagógico. Embora a crise seja enfrentada por pessoas com condições e limitações diferentes, todos estamos passando por um enorme vendaval chamado pandemia. Ao desrespeitar a fila, líderes revelam que são incapazes de pensar no coletivo. Muitos deles ignoram o fato de que a prioridade cumpre com o objetivo de afastar o perigo daqueles que estão mais expostos aos impactos da doença. Portanto, descumprir tal ordem é o mesmo que olhar apenas para o próprio umbigo e não conseguir imaginar a dor do próximo.
Os fatos recentes sobre a forma como lidamos com a pandemia sugere que o Brasil precisa estar mais atento às coisas públicas. Pois quanto mais pessoas nos hospitais, mais colapso e gasto de dinheiro público. Neste sentido temos muito que aprender com a filosofia do republicanismo. É premente a busca pelo senso de abnegação, ou seja, a renúncia em pensar em si próprio para vislumbrar o coletivo.
Atualmente, vários estados estão experimentando o segundo lockdown, acompanhado de uma gigante escassez de leitos de UTI. Mesmo assim, a ação de pessoas que tentam infringir as regras colocando a vida de outras pessoas em risco ainda é alarmante, e neste sentido, temos muito que aprender com as virtudes cívicas e os valores republicanos. Assim, desejamos que o senso de coletividade, abnegação e o zelo pelas coisas públicas sejam alguns dos aprendizados colhidos durante o período pandêmico.
Que saímos mais fortalecidos, pensando mais no coletivo do que em nós mesmos!
Núcleo de Estudos e Pesquisas – NEP
Fundação Republicana Brasileira