A realização da COP30 no coração da Amazônia busca destacar a importância estratégica do bioma no enfrentamento às mudanças climáticas e reforça o compromisso ambiental do Brasil. No entanto, críticas internacionais levaram o governo a intervir para garantir que o evento seja inclusivo
A ideia de trazer a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas (COP30) para o Brasil surgiu logo após as eleições de 2022. Durante a COP27, no Egito, em novembro daquele ano, o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva declarou que, ao assumir o governo, defenderia a realização do evento em território brasileiro, preferencialmente em uma cidade amazônica, como Manaus ou Belém.
Na mesma ocasião, governadores da região Norte manifestaram apoio. Helder Barbalho, governador do Pará, entregou a Lula uma carta dos estados da Amazônia Legal solicitando que o presidente negociasse a realização da conferência na região. O próprio Helder sugeriu Belém como cidade-sede. Em 11 de janeiro de 2023, já no exercício do cargo, Lula reuniu-se com Barbalho e oficializou Belém como candidata brasileira para sediar a COP30 de 2025. O Itamaraty encaminhou a proposta às Nações Unidas, concretizando a candidatura do Pará.
A confirmação de Belém como sede da conferência foi celebrada pelo governo e recebeu apoio internacional por diversos motivos, entre eles:
- Localização estratégica no bioma amazônico: Belém está no coração da Amazônia, ecossistema essencial para conter o aquecimento global.
- Visibilidade para a realidade amazônica: o governo federal defendeu que a COP fosse realizada no Pará para que líderes e delegações estrangeiras vivenciassem a Amazônia de perto, suas florestas, rios, fauna e desafios socioambientais, dando centralidade às vozes e demandas dos povos amazônicos.
- Rodízio regional e apoio internacional: no corrente ano, o rodízio da ONU determinava que um país da América Latina e Caribe fosse o anfitrião. O Brasil foi oficializado como sede durante a COP28, em Dubai (2023), e a indicação de Belém foi aprovada por unanimidade pelo grupo latino-americano, recebendo anuência das Nações Unidas.
A COP30 marca a primeira vez que uma cidade brasileira sediará a conferência do clima da ONU, feito histórico para o país, e simboliza a reinserção do Brasil como liderança positiva na agenda climática global. Analistas ressaltam, ainda, que a articulação política entre o governo federal e o Pará proporcionou investimentos em infraestrutura, com potencial de deixar um legado para a população. Para Helder Barbalho, sediar o evento é uma oportunidade de mostrar que a Amazônia “está preparada para receber o planeta” e de estimular o mundo a discutir a região sob a perspectiva de seus habitantes, conciliando desenvolvimento sustentável e conservação da floresta.
Críticas internacionais e desafios logísticos
Apesar do entusiasmo com a chamada “COP da Amazônia”, a escolha de Belém trouxe desafios práticos. Delegações estrangeiras manifestaram preocupação com a capacidade de hospedagem na cidade. Desde o início do ano, os preços de hotéis e aluguéis aumentaram drasticamente, chegando a valores até 10 ou 15 vezes acima do normal. Essa escalada gerou críticas e até pedidos formais para que a sede fosse alterada. A ONU temia que países mais pobres pudessem ser impedidos de participar devido aos custos elevados.
Diante da repercussão, o Governo Brasileiro reafirmou Belém como sede e intensificou esforços para solucionar o problema, envolvendo órgãos federais, estaduais e o setor hoteleiro. Medidas legais foram adotadas: a Justiça do Pará determinou que plataformas como Booking e Agoda coibissem preços excessivos, exigindo revisão das tarifas e impondo multas diárias em caso de descumprimento. Órgãos de defesa do consumidor, o Ministério Público estadual e a Casa Civil também atuaram para investigar e conter práticas abusivas.
Como resultado, o governo garantiu condições mais acessíveis de hospedagem para delegações de menor poder aquisitivo. Países de baixa renda e pequenas ilhas terão, por exemplo, ao menos 15 quartos assegurados a preços compatíveis com o mercado. Autoridades locais iniciaram ainda parcerias para ampliar acomodações alternativas e melhorar estruturas urbanas temporárias, buscando tornar a COP30 a conferência mais inclusiva já realizada, com ampla participação da sociedade civil, povos tradicionais e nações vulneráveis.
Em audiências no Congresso, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, reiterou que “o plano B é Belém”, descartando qualquer mudança. Ele reconheceu o forte simbolismo da escolha, uma cidade amazônica representando desafios comuns ao mundo em desenvolvimento, mas também reforçou a necessidade de reduzir os preços para garantir participação ampla. Com a intervenção governamental e a pressão internacional, as tarifas começaram a diminuir gradualmente nos últimos meses, demonstrando o esforço para equilibrar a viabilidade econômica local com o interesse público global.
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB
Crédito da imagem: GovPA