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Financiamento climático e proteção das florestas avançam em Belém durante a COP30

A conferência marca novos compromissos globais para manter florestas em pé, ampliar recursos climáticos e fortalecer a governança ambiental em países vulneráveis 

A COP30 em Belém tem se destacado não apenas pelas negociações políticas, mas também pela apresentação de modelos concretos de financiamento capazes de transformar a ação climática nos próximos anos. Entre os principais avanços, o lançamento do Fundo “Florestas Tropicais para Sempre” tornou-se um dos anúncios mais simbólicos da conferência, especialmente por surgir no coração da Amazônia, região que abriga ecossistemas essenciais para a regulação do clima global.  

Idealizado pelo Brasil e apoiado por países tropicais, o fundo propõe um modelo contínuo de remuneração pela conservação. Diferentemente dos mecanismos baseados em créditos de carbono, a iniciativa prevê investir os recursos arrecadados e utilizar apenas os rendimentos para remunerar nações que mantêm suas florestas em pé, estimulando políticas de preservação permanente. Até agora, mais de US$ 5 bilhões foram prometidos por Brasil, Indonésia, Noruega, França, Portugal e Alemanha, aproximando-se da metade da meta inicial de US$ 10 bilhões. O Brasil aportou US$ 1 bilhão, o mesmo valor da Indonésia, enquanto a Noruega se comprometeu com até US$ 3 bilhões, condicionados a critérios de governança. 

Um dos pontos considerados estratégicos é a destinação de 20% dos recursos diretamente a povos indígenas e comunidades tradicionais, reforçando a compreensão de que a proteção das florestas depende do fortalecimento das populações que historicamente garantem sua conservação. Lideranças indígenas e ambientalistas celebraram o avanço, mas alertaram que o sucesso do fundo exige salvaguardas robustas para evitar que o financiamento estimule práticas econômicas contrárias ao propósito de proteção ambiental. Transparência, governança participativa e regras claras foram apontadas como requisitos essenciais para assegurar a credibilidade internacional do mecanismo. 

Paralelamente ao anúncio amazônico, as negociações oficiais avançaram em uma agenda mais ampla de financiamento climático. As presidências da COP29 (Azerbaijão) e da COP30 apresentaram o chamado Mapa do Caminho de Baku a Belém, documento que propõe mobilizar pelo menos US$ 1,3 trilhão por ano até 2035 para apoiar países em desenvolvimento. A cifra supera em mais de dez vezes a antiga promessa dos US$ 100 bilhões anuais, frequentemente descumprida, e sinaliza que a crise climática exige uma reformulação profunda da arquitetura financeira internacional. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou os avanços da COP30 como um “ponto de inflexão” para a mobilização de recursos, reforçando que o financiamento climático não deve ser entendido como gesto de solidariedade, mas como investimento para evitar danos econômicos irreversíveis associados ao aquecimento global. Segundo ele, proteger florestas, ampliar adaptação e fortalecer comunidades vulneráveis reduz custos futuros e aumenta a segurança planetária. 

Outro tema sensível dos primeiros dias em Belém foi a operacionalização do fundo de perdas e danos, mecanismo criado para compensar países afetados por desastres climáticos. Embora reconhecido em conferências anteriores, o fundo ainda carecia de definições claras sobre fontes de financiamento, critérios de contribuição e regras de desembolso. Delegações de países vulneráveis pressionaram por compromissos concretos e por maior agilidade na liberação de recursos, destacando que eventos extremos já geram impactos desproporcionais em nações pobres, que não possuem capacidade financeira para reconstrução. 

Além dos acordos multilaterais, a COP30 registrou anúncios paralelos de bancos internacionais, empresas e instituições financeiras comprometidas com investimentos em energia limpa, agricultura sustentável e adaptação baseada em ecossistemas. A combinação entre fundos públicos, capital privado e novos mecanismos de crédito busca reduzir a histórica lacuna entre promessas e implementação, garantindo condições para que o Acordo de Paris avance de maneira mais justa e efetiva. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom/FRB
Crédito da imagem: Bruno Peres/Agência Brasil 

 

 

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