Documento aprovado após dias de impasses reafirma metas do Acordo de Paris, amplia compromissos de financiamento climático e destaca papel dos povos amazônicos, mas mantém controvérsias sobre combustíveis fósseis e responsabilidades globais
A COP30 encerrou suas atividades em Belém com um misto de avanços diplomáticos, tensões políticas e expectativas sobre a capacidade dos países de transformar compromissos em ações concretas. O evento, considerado histórico por ocorrer na Amazônia, reuniu chefes de Estado, negociadores, cientistas e representantes da sociedade civil que, ao longo de duas semanas, debateram caminhos para conter o aumento da temperatura global e fortalecer a proteção dos ecossistemas tropicais. O texto final, aprovado após intensas rodadas de negociação, reflete tanto consensos importantes quanto a persistência das divergências que marcam a governança climática internacional.
As discussões mais delicadas ocorreram em torno da transição energética global. Países desenvolvidos e nações insulares pressionaram por linguagem mais firme em relação à eliminação gradual dos combustíveis fósseis, vistos como principal motor da crise climática. Já grandes economias emergentes defenderam um texto equilibrado, que reconhecesse suas necessidades de desenvolvimento, as desigualdades históricas nas emissões e a importância de financiamento previsível para apoiar transformações estruturais. O resultado foi uma formulação intermediária que reafirma a trajetória de redução das emissões, menciona a necessidade de acelerar a transição para fontes limpas e convoca os países a atualizarem suas metas nacionais com mais ambição até 2026.
Outro eixo decisivo das negociações envolveu o financiamento climático. O documento final consolidou o compromisso de ampliar recursos destinados à adaptação, especialmente para países tropicais afetados por secas, enchentes e degradação ambiental. A COP30 também trouxe avanços na operacionalização do Fundo de Perdas e Danos criado na COP anterior, com novas promessas de aporte feitas por nações desenvolvidas. Apesar disso, o montante ainda é considerado insuficiente por especialistas e representantes dos países mais vulneráveis, que destacam a urgência de garantir previsibilidade financeira para lidar com impactos já irreversíveis da mudança do clima.
Brasil – O Brasil teve papel de destaque como anfitrião e articulador. Além de apresentar o Plano de Transformação Ecológica, que envolve incentivos à bioeconomia, expansão das energias renováveis e controle do desmatamento, o país atuou na mediação de posições entre países desenvolvidos e Sul Global. Representantes de povos indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais tiveram espaço ampliado nos debates e influenciaram a redação do texto final ao reforçar a importância da proteção da Amazônia, da segurança hídrica e da justiça climática. Esse protagonismo local foi apontado como marca distintiva desta edição da COP.
A construção do documento final, no entanto, não foi simples. Durante vários momentos, grupos de negociação expressaram preocupação com trechos considerados pouco ambiciosos ou vagos. Delegações de pequenos Estados insulares insistiram que cada ano perdido aumenta o risco existencial de desaparecimento físico de seus territórios. Organizações ambientais criticaram o ritmo lento da eliminação dos combustíveis fósseis e alertaram para a necessidade de mais clareza sobre metas de curto prazo. Por outro lado, países em desenvolvimento destacaram que o cumprimento de metas ambiciosas depende de investimentos massivos, transferência tecnológica e flexibilização de mecanismos financeiros.
Apesar das divergências, o texto final foi aprovado com ampla maioria e marcou a conclusão de uma COP que simboliza o encontro entre ciência, política e urgência climática. Belém se despediu do evento com a promessa de fortalecer a cooperação internacional, ampliar investimentos em conservação e acelerar a transição para um modelo econômico mais sustentável. O desafio agora é transformar acordos multilaterais em políticas públicas robustas e em mudanças concretas nas próximas décadas.
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Crédito da imagem: Divulgação/Secom