Informe-se

Brasil apresenta o “Mapa do Caminho” na COP30, mas enfrenta resistência e queda de menção no texto final

Proposta brasileira de roteiro para afastamento dos combustíveis fósseis obtém apoio de mais de 80 países, porém é excluída do documento final da COP30 e segue como iniciativa voluntária sob presidência brasileira até 2026

 

Durante a realização da COP30, realizada em Belém, o governo brasileiro colocou no centro das discussões internacionais climáticas uma proposta de grande impacto simbólico e estratégico, denominada “Mapa do Caminho”. Trata-se de um roteiro para a transição dos combustíveis fósseis — petróleo, gás e carvão — para economias de baixo carbono, apresentado como parte de uma agenda mais ampla de justiça climática e liderança global. A iniciativa ganhou visibilidade ao ser mencionada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula de líderes que antecedeu a conferência, e mobilizou vários países a se engajarem no desenho de um futuro sem dependência de combustíveis fósseis.  

O “Mapa do Caminho” propõe que os países, especialmente aqueles mais vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas e com economias ainda baseadas em combustíveis fósseis, desenvolvam trajetórias claras e cientificamente embasadas para reduzir progressivamente o uso de tais fontes energéticas, ao mesmo tempo em que se promovem alternativas limpas, energia renovável, adaptação e mecanismos de financiamento climático. Segundo a publicação da agência nacional de notícias, a ministra Marina Silva reforçou que “o Mapa do Caminho já não é mais uma proposta apresentada pelo Brasil, pelo Presidente Lula, mas por dezenas de países e por milhares e milhares de pessoas em todo o mundo, chancelada pela comunidade científica”.  

A importância da proposta no contexto da COP30 residiu em três vetores principais. Primeiro, ela elevou a agenda dos combustíveis fósseis — historicamente um tabu nas negociações climáticas globais — ao centro das articulações diplomáticas. Conseguiu o apoio expresso de mais de 80 nações que passaram a defender um “roadmap” para afastamento dos fósseis.  

Segundo ela colocou o Brasil em posição de protagonismo internacional no debate climático, reforçando sua presidência da COP30 e a expectativa de que o país atue como articulador de uma agenda de transição justa, especialmente voltada às economias emergentes e aos povos tradicionais da Amazônia. Terceiro, embora não tenha sido incorporada ao documento oficial final da COP30 — conforme reconhecido pelo presidente da conferência, André Corrêa do Lago, que afirmou que o mapa “não fica no texto” oficial —, a proposta foi deixada como um compromisso voluntário e um mecanismo de pressão para futuras negociações.  

No entanto, o percurso da proposta encontrou resistências significativas. Durante as negociações finais da COP30, blocos de países produtores e exportadores de petróleo, como a Arábia Saudita e a Rússia, bem como a Índia, articularam para impedir que o “Mapa do Caminho” fosse incorporado ao “Mutirão Global”, o pacote de decisões da conferência, alegando que qualquer menção explícita aos combustíveis fósseis comprometeria o desenvolvimento econômico de suas nações. Como resultado, embora a proposta tenha avançado em fóruns paralelos e no discurso diplomático, a versão final aprovada na plenária de Belém não incluiu menção ao “Mapa do Caminho”. 

Apesar dessa exclusão formal, os organizadores e o governo brasileiro transformaram a iniciativa em um mecanismo de continuidade: foi anunciada a constituição de um grupo técnico voluntário, sob coordenação da presidência da COP30, para elaborar até a próxima edição da conferência um relatório que subsidie a implementação do mapa, com a primeira reunião prevista para abril de 2026 na Colômbia. Essa articulação mostra que o “Mapa do Caminho” deixa de ser apenas uma proposta retórica e passa a integrar um processo contínuo de mobilização internacional. 

Para o Brasil, a apresentação do “Mapa do Caminho” representa tanto oportunidade quanto desafio. O país assume uma responsabilidade diplomática e simbólica de liderar a transição para uma economia de baixo carbono, em especial considerando sua posição geográfica na Amazônia e seu enorme potencial em energia renovável e conservação. Isso pode reforçar sua imagem como ator de relevo no cenário climático global. Por outro lado, tutela tensões internas, entre o discurso de liderança e a necessidade de compatibilizar exploração de combustíveis fósseis, políticas de desenvolvimento regional, e as exigências do setor produtivo e energético nacional. Analistas destacaram que, mesmo que o mapa seja bem-intencionado, ele exigirá investimentos robustos, gestão política firme e mecanismos eficazes de monitoramento, além de ser pressionado por uma lógica global na qual os combustíveis fósseis continuam centrais para diversas economias. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP 

Crédito da imagem: Wagner Meier/Getty Images 

Receba a Conjuntura Republicana Semanalmente