A ONU elegeu a igualdade de gênero como prioridade porque nenhuma sociedade será sustentável enquanto mulheres e homens não tiverem as mesmas condições no trabalho, na política e na vida cotidiana. Os dados ainda mostram grandes disparidades — inclusive no Brasil
Quando os países aprovaram em 2015 a Agenda 2030, reconheceram que a igualdade de gênero não era apenas uma questão de justiça, mas uma condição essencial para o desenvolvimento sustentável. O ODS 5 foi criado para “alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas”, com metas que envolvem desde o fim da violência até paridade salarial, divisão do cuidado doméstico e representatividade política.
Apesar de avanços, o Fórum Econômico Mundial estima que, no ritmo atual, levará 131 anos para que as mulheres atinjam plena igualdade com os homens. A ONU alerta que nenhum país do mundo conseguiu, até hoje, eliminar todas as disparidades. Apenas 25% das cadeiras parlamentares globais são ocupadas por mulheres, e a diferença salarial média ainda ultrapassa os 20%, reflexo de desigualdades no acesso a oportunidades e na divisão do trabalho remunerado e doméstico. Em diversos lugares do planeta, ainda persistem práticas nocivas e disparidades gritantes: aproximadamente 1 em cada 4 meninas no mundo continua se casando antes de completar 18 anos, fenômeno do casamento infantil que viola direitos básicos.
A desigualdade também aparece no cuidado não remunerado. Mulheres dedicam, em média, o dobro do tempo dos homens às tarefas domésticas. Isso limita sua participação no mercado de trabalho e alimenta o chamado “teto de vidro”, que dificulta a ascensão a cargos de liderança. Em países onde pais também têm direito a licenças extensivas após o nascimento dos filhos, a contratação e promoção de mulheres deixa de ser vista como um “risco” já que homens podem igualmente se ausentar para cuidar dos bebês. Essa medida contribui para diluir preconceitos e responsabilidades de cuidado, abrindo espaço para mais mulheres assumirem cargos de liderança sem sofrer discriminação.
Brasil – Por aqui, o retrato é semelhante. Dados do IBGE de 2022 mostram que as mulheres ganham, em média, 17% a menos que os homens em funções equivalentes. Em 82% das ocupações analisadas, os salários femininos são menores. Além disso, apenas 18,1% das cadeiras na Câmara dos Deputados são ocupadas por mulheres, colocando o país na 133.ª posição global em representação parlamentar feminina.
Para enfrentar esses desafios, o Brasil adotou medidas recentes. Entre elas, a nova Lei de Igualdade Salarial (Lei n.º 14.611/2023), que obriga empresas a garantirem remuneração igual para funções equivalentes entre homens e mulheres. No campo da segurança, o país segue enfrentando altos índices de violência de gênero, com 1.492 feminicídios registrados em 2024, o maior número desde o início da série histórica.
No cenário internacional, países como Islândia e Noruega lideram os rankings de igualdade, graças a políticas como licença parental igualitária, creches públicas e incentivos à participação feminina na política. A ONU destaca que ações como essas devem ser replicadas e ampliadas para reduzir as desigualdades ainda persistentes.
A igualdade de gênero é uma questão econômica, social e democrática. Mais do que corrigir injustiças históricas, promove sociedades mais ricas, produtivas e justas. A meta do ODS 5 para 2030 exige pressa, investimento e vontade política, no mundo e no Brasil.
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
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