A Inteligência Artificial na política: avanços e desafios em um novo cenário tecnológico

A Inteligência Artificial na política: avanços e desafios em um novo cenário tecnológico

Governos e partidos políticos adotam IA para otimizar serviços públicos e estratégias eleitorais, mas a tecnologia levanta questões éticas e de transparência

A utilização em massa das Inteligências Artificiais (IAs) tem transformado setores diversos, incluindo a política. De análises de dados eleitorais à gestão pública, as IAs surgem como ferramentas para governos, partidos e candidatos. Porém, sua aplicação levanta questões éticas e de governança, criando um campo de tensão entre os avanços tecnológicos e a preservação da democracia.   

Os benefícios da presença das IAs na política podem ser sentidos nas práticas de eficiência administrativa. Governos têm adotado IAs para melhorar a prestação de serviços públicos. Na Estônia, por exemplo, a IA é usada para automatizar processos judiciais em pequenas causas e para oferecer serviços personalizados aos cidadãos, reduzindo burocracias e custos.  Outro benefício seria a análise de dados eleitorais, uma vez que plataformas de IAs permitem a coleta e análise de grandes volumes de dados sobre comportamento eleitoral, ajudando campanhas políticas a segmentar e personalizar mensagens para grupos específicos. Isso foi amplamente observado nas campanhas presidenciais dos EUA em 2016 e 2020.   

Há ainda a prevenção e o combate à corrupção. Ferramentas baseadas em IA podem identificar padrões suspeitos em contratos públicos e monitorar gastos governamentais, tornando mais fácil detectar fraudes e desvios. Um exemplo notável é o uso da IA na Índia para monitorar subsídios agrícolas, reduzindo significativamente desvios de recursos.   

Por outro lado, a utilização desmedida das IAs pode também representar risco ao ambiente político, tão polarizado nos últimos anos. O uso de Inteligências para criação de deepfakes e manipulação de conteúdo digital representa uma ameaça à integridade do discurso público. Casos de vídeos falsificados e campanhas de desinformação geradas por IA têm se tornado mais comuns, especialmente em contextos eleitorais. Algoritmos de IA podem também perpetuar discriminações existentes se forem treinados em dados enviesados, levando a decisões injustas, como na concessão de benefícios sociais ou na gestão de segurança pública.  Há ainda a questão da garantia da privacidade e da vigilância: a adoção de sistemas de vigilância baseados em IAs, como o sistema de crédito social na China, levanta preocupações sobre violações de privacidade e potencial abuso de poder por governos autoritários.   

Casos reais (e atuais) de uso de IA na política   

  • Estados Unidos 

Durante a presidência de Barack Obama, a campanha utilizou modelos de IA para identificar eleitores indecisos e otimizar os esforços de mobilização. Mais recentemente, governos estaduais têm utilizado IA para prever desastres naturais e planejar respostas mais eficientes.   

  • China 

O uso de IA para vigilância é amplamente documentado, com sistemas que monitoram cidadãos em tempo real e avaliam comportamentos para determinar “confiabilidade” social.   

  • Brasil:  

Durante as eleições de 2022, candidatos e partidos usaram ferramentas de IA para análise de sentimentos nas redes sociais e segmentação de mensagens, embora também tenham surgido preocupações com o uso de desinformação automatizada.   

O Futuro  

A crescente utilização das IAs na política apresenta um dilema: enquanto a tecnologia promete eficiência e inovação, também exige uma regulamentação robusta para mitigar seus efeitos negativos. Governos, ONGs e organizações internacionais precisam criar marcos regulatórios que garantam transparência, ética e respeito aos direitos fundamentais.   

No fim, as IAs têm o potencial de fortalecer ou enfraquecer as democracias, dependendo de como são aplicadas. Assim, cabe à sociedade civil, aos legisladores e aos próprios desenvolvedores de IAs moldar seu uso de maneira que promova a equidade e a justiça, garantindo que o futuro político seja tão inteligente quanto ético.   

 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom FRB Subseção/SP 

Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB  

Imagem: Criação de Raphael Pinheiro 

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