Qual a visibilidade de um morador de região carente dentro da nossa sociedade? Como dar voz a pessoas que não possuem o mesmo acesso a transporte, saneamento básico e educação do que os moradores de grandes centros? Como representar comunidades marginalizadas dentro e fora do Congresso?
Na edição do nosso Política pra quê? realizado no Setor Habitacional Sol Nascente, Ceilândia/DF, foi possível ouvir de perto a realidade de pessoas batalhadoras, de origem humilde, que passam por desafios que pessoas de classe média sequer imaginam. O local foi apontado no Censo 2000 como a maior favela do Distrito Federal e segunda maior do Brasil. Hoje, em processo de urbanização, possui 100.000 habitantes e caminha para se transformar em bairro próprio, como os vizinhos “P” Norte e Expansão do Setor “O”.
Reconhecida como a maior comunidade horizontal da América Latina desde 2013, o Sol Nascente possui os problemas que toda região pobre tem: cenário de tráfico, evasão escolar, desemprego e violência. Escutamos o retrato nu e cru de se viver no local diretamente de alguns moradores, sendo a maior parte deles líderes comunitários e ativistas engajados no resgate da juventude por meio do esporte e da música para evitar aumento nos índices de criminalidade.
Na ocasião de 21/10, pude cumprimentar os presentes para exibir um pouco do nosso trabalho na Fundação Republicana Brasileira, inclusive sobre os cursos gratuitos que muito podem contribuir no desenvolvimento dos cidadãos da localidade. Contamos com a presença de nosso cientista político e coordenador acadêmico Leonardo Barreto, que conduziu a roda de conversa com a população.
No encontro, conhecemos a história de Maurício Nascimento, que diante da falta de oportunidades se envolveu no tráfico de drogas e após cumprir sua pena decidiu se empenhar em movimentos sociais. Realiza encontros de debate que investem no rap, no grafite, na poesia e no esporte para motivar jovens a continuarem os estudos e conciliarem seus talentos no tempo livre para evitar o envolvimento no crime. Por meio dos grupos de apoio e de atividades recreativas, jovens e adultos discutem como podem cobrar do governo uma representatividade maior no cenário político. Para Maurício, é dever das autoridades entender as necessidades da população.
As pessoas que residem em Sol Nascente precisam acordar horas mais cedo para pegar um ou dois veículos apenas para chegar em seus estágios e empregos, visto que muitas vans e ônibus são piratas, pois só passam ônibus regulares na via de fora do bairro. A volta para casa é como a ida: passageiros apertados, muitas vezes em pé e sem condições seguras. Há reclamações de que o único posto de saúde da região, inaugurado em junho, raramente possui médicos de prontidão ou medicamentos. A Escola Rural, única da comunidade, é concorrida por não ter vagas para todos que precisam. Não há creches públicas na região. Diante de tantas adversidades, é fundamental reconhecer a importância da política na vida das pessoas, que pode melhorar com a criação de novos projetos.
Escutar diretamente da fonte as complicações que afetam diariamente a vida desses cidadãos é um dos papéis do projeto Política pra quê?, que foi criado justamente para ceder às pessoas a oportunidade de explicar o que é a atividade para elas e como deveria ser de acordo com suas realidades. Por meio do encontro em Sol Nascente, nos comprometemos a retornar para discutir políticas públicas viáveis para atender as principais carências da área.
A transformação social do Política pra quê? se inicia a partir do momento em que o cidadão conhece seus direitos e deveres e toma consciência de que é possível sim cobrar dos gestores públicos as demandas que garantam melhoria de qualidade de vida à população.
A FRB permanece à disposição da comunidade para levar edições do projeto, que como todos os outros da instituição, é gratuito e voltado a todos os cidadãos.
Renato Junqueira – presidente da Fundação Republicana Brasileira