Já faz algum tempo que o novo curso de política da Fundação Republicana trata da criminalização que o senso comum faz da atividade política. Basta pedir aos participantes que falem a primeira palavra que vem às suas mentes quando escutam o termo “política” para saber do que eu estou falando: corrupção, impunidade, ladrões…
De certa maneira, as manifestações de junho refletiram um pouco desse sentimento. As manifestações de vandalismo e a expulsão dos partidos das passeatas mostraram um profundo ressentimento e descrédito da população em relação aos políticos. De forma complementar às ruas, propostas antipolíticas como a proibição da reeleição ou campanhas pela renovação total das bancadas tomaram a internet. As pessoas não querem reforma. Querem vingança.
Não faltam motivos que expliquem este estado de coisas. Não são raros os casos de políticos que priorizam o jogo em detrimento do bem comum das pessoas, de corporativismo em favor da impunidade de verdadeiros delinquentes e da baixa capacidade e da falta de preparo de muitos eleitos para o cargo para o qual foram escolhidos.
Mas frente a este cenário, o que pode ser feito? Há três caminhos à nossa frente. O primeiro é levar à cabo nossa vingança e aprofundar a negação da política. Evitar discutir, não se envolver (“para não se sujar”), votar nulo, xingar os candidatos que nos abordarem na rua e, se possível, vandalizar algum patrimônio público: destruir um banco de praça, pichar o muro de um hospital, arrancar uma placa de trânsito…
O segundo é engolir todos os desaforos dos políticos e seguir em frente, como estamos fazendo há tantos anos: “afinal, nada muda mesmo, não é”? Faz parte desta receita parar de ler o noticiário para não se irritar, não gastar um minuto sequer refletindo sobre o voto e pensar que político bom é aquele que “rouba, mas faz”, já que não existe outro…
O terceiro caminho nasce da compreensão de que as coisas não mudarão sem um movimento de baixo para cima. Apesar da política ser algo desagradável na maior parte do tempo, ela é necessária. Estas pessoas percebem que o corrupto, o aproveitador e o despreparado se alimentam da omissão e da falta de atenção das pessoas. Elas sabem que mesmo atos pequenos e aparentemente sem importância são válidos e que política é algo que deve estar na educação dos filhos, nas discussões da hora do almoço e na saída da igreja.
Acima de tudo, as pessoas que optam pela participação sabem da sua responsabilidade como semeadoras de bons comportamentos: protestam, votam de forma consciente, não consideram todos os políticos iguais, tentam premiar os bons e punir os maus, buscam inspirar temor nos seus representantes, se comunicam com as autoridades para solucionarem seus problemas e são vigilantes em torno das suas próprias ações, buscando sempre dar o bom exemplo.
Negar ou ignorar a política são opções menos trabalhosas. Mas elas não levam a nenhuma evolução, a nenhum desenvolvimento. E como achar que não tem jeito é o primeiro e mais decisivo passo para piorar as coisas, cada caso de desmando e corrupção denunciado deve ser encarado como uma oportunidade para que as pessoas mostrem força e disposição para participarem da reforma ética que está em curso no Brasil, cada um fazendo o que pode.
A escolha é livre. O resultado do caminho tomado é obrigatório.
Leonardo Barreto
Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília e coordenador acadêmico da Fundação Republicana Brasileira