Informe-se

Cooperativismo – Da Revolução Industrial ao fortalecimento comunitário

Do movimento pioneiro em Rochdale à força das cooperativas agrícolas brasileiras, o cooperativismo consolidou-se como alternativa solidária ao individualismo econômico, transformando vidas no campo e nas cidades

O cooperativismo surgiu como resposta às desigualdades da Revolução Industrial, período em que trabalhadores enfrentavam jornadas exaustivas, salários baixos e intensa exploração. Em 21 de dezembro de 1844, um grupo de 27 tecelões e uma tecelã de Rochdale, em Manchester (Inglaterra), inspirado por ideais de solidariedade e justiça, fundou a “Sociedade dos Probos Pioneiros”. Com um pequeno capital coletivo, abriram um armazém que garantia alimentos a preços justos e divididos igualmente entre os associados. Esse gesto simples estabeleceu as bases do cooperativismo moderno, sustentado em valores que atravessaram séculos: honestidade, democracia e ajuda mútua. 

A ideia se espalhou rapidamente. Na Alemanha, Hermann Schulze-Delitzsch criou, a partir de 1849, cooperativas de crédito voltadas a artesãos e pequenos comerciantes. Pouco depois, Friedrich Wilhelm Raiffeisen fundou cooperativas rurais na década de 1860, com forte impacto na agricultura. Na Itália, Luigi Luzzatti introduziu o modelo na região industrial de Milão. No Canadá, em 1900, surgiu a cooperativa de crédito que deu origem ao Movimento Desjardin, consolidando o alcance internacional desse modelo. 

No Brasil, os primeiros registros datam do século XIX. Entre 1872 e 1877, iniciativas como a Associação Popular Cooperativa Predial do Recife e a Sociedade Cooperativa de Consumo de Pão, em Niterói, mostraram que a lógica solidária também encontrou terreno fértil por aqui. Em 1889, foi criada em Ouro Preto (MG) a Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos, considerada a primeira formalmente organizada no país. A partir daí, o movimento ganhou força em regiões marcadas pela imigração europeia, sobretudo no Sul, entre alemães, italianos e holandeses. 

Nesse processo, o padre suíço Theodor Amstad teve papel fundamental. Ao chegar ao Rio Grande do Sul no fim do século XIX, fundou em 1902 a Sicredi Pioneira, em Nova Petrópolis, primeira cooperativa de crédito brasileira. Ali, católicos e protestantes uniram-se em torno de uma economia compartilhada, retomando princípios que haviam inspirado as experiências europeias. 

Há dezenas de histórias de sucesso que confirmam o impacto do modelo cooperativo. No agronegócio, organizações como Cooxupé (MG), Itambé (MG), Coamo (PR), Coopavel (PR) e a Vinícola Aurora (RS) reúnem milhares de associados, transformam cadeias produtivas regionais e alcançam mercados internacionais. Na agricultura familiar, iniciativas como COOTRAF e COOPERAGRECO, em Santa Catarina, uniram pequenos produtores para oferecer hortifrutis, alimentos coloniais e orgânicos diretamente ao mercado, agregando valor e promovendo desenvolvimento local. Hoje, cerca de 71% dos estabelecimentos rurais cooperados no Brasil pertencem à agricultura familiar, gerando renda, segurança alimentar e integração sustentável com políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). 

O cooperativismo também ultrapassa o campo. Em Pernambuco, a Cooates mobilizou comunidades em projetos socioambientais, como o reflorestamento no entorno do Porto de Suape. Em escala institucional, o Sistema OCB representou o setor em conferências como a COP29, reforçando sua relevância no combate às mudanças climáticas e no avanço das finanças verdes. As cooperativas financeiras, em especial, têm ampliado a inclusão e o desenvolvimento nas regiões mais remotas do país. 

É evidente que, com base comunitária e democrática, o cooperativismo ainda tem muito a oferecer. Seu fortalecimento significa não apenas justiça econômica, mas também inovação social, inclusão financeira e sustentabilidade ambiental. Ao revisitar os alicerces de Rochdale, erguidos por trabalhadores em busca de dignidade, percebemos que esse modelo segue vivo e capaz de inspirar novas transformações, especialmente nas periferias urbanas, na economia local e em contextos marcados pela desigualdade. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP 

Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB 

Crédito da imagem: Freepik 

Receba a Conjuntura Republicana Semanalmente