A geração de 16 a 25 anos poderá assumir na vida pública um bonde que representantes da faixa dos 40 anos acreditam ter perdido.
Pesquisa Datafolha feita em agosto mostra que os jovens são o grupo com maior interesse em participar da política, seja disputando eleição ou assumindo cargo de governo.
Entre os entrevistados, 29% dos que têm entre 16 e 25 anos responderam ter muito interesse ou um pouco de interesse em encarar as urnas.
Conforme a idade sobe, diminui a disposição. De 26 a 40 anos, 19% das pessoas respondem dessa forma. Na faixa acima de 41 anos, a taxa é de 15%.
Movimento semelhante ocorre quando a questão é ocupar um posto público, mas sem ter sido candidato. Enquanto 34% das pessoas de 16 a 25 dizem ter interesse na ideia, o percentual é de 30% na ala de 26 a 40 e de 23% no grupo com mais de 41 anos.
A grande maioria em todas as faixas etárias, no entanto, é composta pelos que falam não ter nenhuma vontade de atuar em postos de decisão.
O Datafolha ouviu 2.086 pessoas em 129 cidades (margem de erro de 2 pontos percentuais para mais ou para menos).
Mesmo quando havia interesse pela política, boa parte dos que eram jovens na fase na fase da redemocratização, entre as décadas de 1980 e 1990, ficaram afastados da esfera pública formal.
Algumas dessas pessoas tentam se redimir criando movimentos para estimular a renovação dos quadros, casos dos grupos Agora!, RenovaBR e Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade).
“A geração que hoje tem 40 anos fez uma opção por atuar fora da política tradicional e deixou um vazio que a nova geração agora procura preencher”, diz José Marcelo Zacchi, 42, um dos fundadores do Nova Democracia, grupo que se propõe a estimular renovação de práticas nas instituições.
“Quando eu tinha 20 e poucos anos, era um momento de transição democrática, já conduzido por um conjunto de líderes. A grande tarefa não era na política institucional, mas nas políticas: como enraizar as instituições democráticas, como fortalecer a sociedade.”
“Hoje, quem está com 23 anos e desejo de atuar já não vê vazios no ‘policy’ [na consolidação de políticas públicas], mas, sim, no ‘politics’ [na política tradicional]. Enfrentar essa lacuna é o desafio do momento e, sem isso, não haverá avanços”, diz o especialista em políticas públicas.
A tal lacuna está no horizonte do estudante de ciências sociais Marcelo Rocha, 21, um dos jovens que têm interesse em mergulhar na política.
Ligado ao tema desde a adolescência —quando sua igreja (a Batista Água Viva) o indicou para uma cadeira no Conselho Municipal de Juventude de Mauá—, ele já foi do PT, hoje está no PSOL e planejava concorrer a deputado estadual em São Paulo neste ano.
“Os partidos não tratam as juventudes como prioridade. E não é só no PSOL. A velha política não dá espaço para novos nomes”, diz sobre ter desistido de se lançar, após ver que faltaria apoio da sigla à sua eventual candidatura. “Priorizam reeleição”, afirma.
A verve política na vida de Marcelo, ele conta, aflorou no movimento de ocupação das escolas estaduais de São Paulo, em 2016. “A gente debatia educação de qualidade, reforma do ensino médio. A maior vitória foi trazer a juventude para discutir as questões.”
Marcelo também fundou um movimento pró-renovação, o Nós, que tem 17 postulantes em nove estados. Embora haja “muita coisa” acontecendo fora da política institucional, ele mantém a ideia de se candidatar. “Precisamos ocupar espaços. Acho que 2018 é um passo, 2020 é outro.”
No Rio, Renan Ferreirinha, 24, quer dar o primeiro passo. Estreante, o candidato a deputado estadual pelo PSB foi um dos 133 bolsistas do RenovaBR, projeto que se propõe a formar novas lideranças.
“Pensava em me candidatar só em 2022, mas muita gente começou a mostrar que há pouca representatividade dos jovens entre os candidatos.”
Para Ferreirinha, “a renovação é necessária e vai chegar. Se não chegar em 2018, por causa das artimanhas e obstáculos da velha política, vai chegar nas próximas eleições”.
Estar no papel de candidato, porém, tem ainda seu preço. O fluminense, graduado em ciência política na Universidade Harvard, diz que há quem o acuse de oportunismo, atitude que considera “maléfica”.
“A gente precisa parar de rechaçar o político como algo ruim. Precisa acreditar que é possível fazer política ética”, afirma. Ele se diz cético em relação à renovação do Executivo, mas vê uma “oportunidade de ouro” nos Legislativos.