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Commodities: o motor silencioso da economia brasileira

Soja, minério de ferro, petróleo e carnes impulsionam as exportações e colocam o Brasil entre os principais players globais no comércio de commodities. No entanto, essa posição de destaque também evidencia os desafios de uma economia dependente de matérias-primas em um mercado internacional marcado pela volatilidade

De produtos agrícolas a matérias-primas minerais, as commodities são elementos centrais da economia mundial. São bens padronizados, negociados em bolsas internacionais, e essenciais para o funcionamento de indústrias, a segurança alimentar global e a dinâmica dos mercados financeiros. Diferentemente da produção industrial, as commodities apresentam pouca ou nenhuma diferenciação de marca, um barril de petróleo ou uma tonelada de soja, por exemplo, têm valor equivalente independentemente da origem. Essa padronização, combinada à oferta e demanda globais, define seus preços e sua relevância como indicadores econômicos. 

No Brasil, o mercado de commodities vem crescendo de forma expressiva e histórica. O país se consolidou como líder global em diversas categorias: é o maior exportador mundial de soja (incluindo derivados como farelo e óleo), café, açúcar e suco de laranja. No setor mineral, destaca-se a produção de minério de ferro, acompanhada por sal, níquel, bauxita, cobre e ouro. No agronegócio, o Brasil ocupa posição de destaque entre os principais exportadores de carne bovina, frango e suco de laranja, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). 

Esse protagonismo rende dividendos que vão além da balança comercial. As receitas cambiais geradas pelas exportações contribuíram para a formação de reservas internacionais, atraíram investimentos estrangeiros e impulsionaram a produtividade do país. Apenas no primeiro trimestre do corrente ano, a exportação de farelo de soja bateu recordes. Em 2024, o agronegócio brasileiro atingiu a marca de US$ 137,7 bilhões em exportações, superando os Estados Unidos em volume. Minério de ferro, soja, petróleo e carne estão entre os dez principais produtos exportados, compondo parte significativa da pauta externa brasileira. 

Termômetro econômico 

Em termos macroeconômicos, o desempenho das commodities atua como um termômetro da economia global. Quando a demanda é aquecida, como ocorreu no início do ano vigente, impulsionada pela maior procura chinesa, os preços sobem, beneficiando as exportações brasileiras. Em contrapartida, períodos de crise reduzem a demanda, pressionam os preços e impactam diretamente o crescimento do país. Internamente, o cenário também apresenta obstáculos: a recente elevação da taxa Selic para 15% encarece o crédito e compromete a competitividade dos exportadores. Somam-se a isso novas tarifas anunciadas pelos Estados Unidos sobre produtos como café, carne e suco de laranja, com vigência a partir de 1º de agosto, o que acentua a urgência em diversificar mercados e destinos. 

Embora altamente rentável, a dependência de commodities envolve riscos. A chamada “doença holandesa”, fenômeno econômico que descreve o enfraquecimento da indústria nacional decorrente da excessiva exploração de recursos naturais, alerta para os perigos de uma economia que negligencia setores de maior valor agregado. Além disso, políticas cambiais e de juros impactam diretamente a rentabilidade das cadeias produtivas.  

Por isso, ganha força o movimento por estratégias de agregação de valor com base em sustentabilidade e inovação. No campo, isso se reflete no uso de bioinsumos e agricultura de precisão; na mineração, na ampliação do processamento interno de minérios; e nos serviços financeiros e logísticos, que se conectam diretamente à cadeia das commodities. Bancos como o BTG Pactual já desenvolvem operações internacionais que integram produção e exportação de alimentos, promovendo uma atuação completa “do campo ao comprador”.  

As commodities, portanto, são a base invisível que sustenta grande parte da economia brasileira. Com impacto direto nas contas externas, na geração de empregos e na formulação de políticas macroeconômicas, elas são tanto um motor de desenvolvimento quanto um alerta sobre vulnerabilidades estruturais. O grande desafio do Brasil é deixar de ser apenas um fornecedor de recursos e se tornar protagonista em cadeias de valor complexas, com sustentabilidade, tecnologia e inovação como pilares da transformação. 

 

Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP 

Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB 

Crédito da imagem: Internet 

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