O fim do mundo não passou de um “bug” – Conjuntura Republicana Ed. nº 190

O fim do mundo não passou de um “bug” – Conjuntura Republicana Ed. nº 190

Desde os primórdios da globalização, iniciada entre os séculos XIV e XV, a humanidade tem testemunhado uma notável diminuição das barreiras geográficas e culturais. A civilização do século XXI transformou e reduziu o que antes eram vastos oceanos separando continentes a meros cliques em uma tela de celular.

Embora o termo “globalização” tenha sido amplamente popularizado na década de 1980, ele se refere a um processo que começou muito antes. As grandes navegações europeias dos séculos XIV e XV são frequentemente vistas como o primeiro grande marco desse fenômeno, exercendo uma influência profunda na formação do cenário geopolítico contemporâneo.

As caravelas portuguesas desempenharam um papel crucial ao expandir o conhecimento sobre os territórios desconhecidos no mapa- -múndi, mas foi o advento da internet que realmente encurtou as distâncias entre as pessoas de maneira significativa, conectando o mundo de forma inédita e instantânea.

Esse processo de globalização transformou profundamente a maneira como a humanidade produz conhecimento, moldou as relações entre Estados soberanos e impactou diversos outros aspectos da vida contemporânea.

Na prática, a teoria da interdependência complexa, desenvolvida por Robert O. Keohane e Joseph S. Nye na década de 1970, desempenhou um papel central de moldar a maneira como entendemos a dinâmica das relações internacionais.

O mundo observado por Keohane e Nye estava entrelaçado por uma complexa rede de relações que conectava os Estados e incluía uma variedade de atores, como empresas multinacionais, ONGs e organizações internacionais. Essas conexões manifestavam-se por meio do comércio, dos investimentos globais, fluxos de informação e acordos multilaterais de cooperação em diversas áreas.

No entanto, a complexa rede de relações que conecta os Estados tornou-se ainda mais emaranhada e interdependente, com o domínio das tecnologias se consolidando como a verdadeira “arma” do século XXI.

Em julho de 2024, uma atualização de software malsucedida da empresa de segurança cibernética norte-americana CrowdStrike provocou um apagão cibernético global. Esse incidente causou o cancelamento de voos, a interrupção de sistemas bancários, telecomunicações e lojas de varejo, além de comprometer a segurança de presídios.

Em suma, a interdependência complexa está associada às tentativas de manutenção da paz e da hegemonia no sistema internacional. No entanto, as tecnologias que aprofundaram os laços entre os países também trazem novos desafios. Assim, a segurança cibernética torna-se cada vez mais complexa e a realidade contemporânea mostra que o fim do mundo não precisaria ser causado por um ataque nuclear generalizado, mas, sim, por uma simples atualização sem sucesso.

 

Texto: Gabriel Lana – Núcleo de Estudos e Pesquisas (NEP) – FRB

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