Nesse dia 15, comemoramos 123 anos da Proclamação da República. Além de um fato histórico, a data é um momento muito simbólico, que traz uma reflexão consigo que eu gostaria de começar a abordar fazendo uma pergunta: após tanto tempo, o Brasil já conseguiu se tornar de fato uma nação republicana?
Para começo de conversa, não estou falando da República como regime político. Não quero ficar limitado pelos aspectos formais e constitucionais da lei. Até porque, no papel, somos a nação com mais direitos e garantias do mundo e todos sabemos que a realidade não é bem assim. Nesse sentido, é preciso ir além. Por isso, convido a todos a pensar a República como um conjunto de princípios. E por princípios, faço referência ao conceito desenvolvido por Montesquieu: “princípios são as forças que fazem o homem andar”, são os valores que o inspiram.
Há dois princípios inerentes à república. O primeiro é a igualdade. Ela é mola do movimento republicano, que se estruturou historicamente na luta contra os privilégios das famílias reais europeias. Na nossa sociedade, ela está ligada à universalização das oportunidades, do ensino e, principalmente, da justiça, que ainda tem uma abordagem claramente discriminatória (vide, por exemplo, o instituto da cela especial para quem tem curso superior).
O segundo é o sacrifício. Todo mundo que tem uma família ou é casado sabe que é preciso fazer concessões, respeitar espaços e dar uma dose de colaboração para o bom funcionamento da casa. Em um país, as coisas são parecidas. Cada um deve dar a sua parcela de esforço, de sacrifício, para termos uma coletividade saudável. Por exemplo, ninguém gosta de pagar impostos, mas isso é uma necessidade caso queiramos contar com serviços importantes para o nosso bem estar, como segurança e ruas asfaltadas.
Dessa forma, há 123 anos de distância do 15 de novembro de 1889, como estamos, aonde chegamos?
Que o Brasil é um país ainda muito desigual, todos sabemos. Mas também não há como negar que ele também está caminhado em uma velocidade cada vez maior para a correção dessas injustiças. Aliás, o reconhecimento internacional obtido pelo nosso povo lá fora não está ligado à nossa força militar ou à nossa seleção de futebol. Mas à nossa capacidade de incluir pessoas que ficaram marginalizadas por séculos. Ao mesmo tempo privilégios da classe política e também da alta burocracia estão sendo atacados, apesar da enorme resistência que oferecida por alguns.
Precisamos também empreender uma mudança cultural. Entre nós, povo, há pouca consciência do papel individual que cada um tem para o bom funcionamento da nossa “casa”. É comum ver desrespeito ao patrimônio público em todos os parques, desrespeito com idosos e crianças, falta de educação nas filas de cinema e no trânsito, por exemplo. Pessoas honestas e cumpridoras das suas funções sociais ainda são vistas como “bobas” e ingênuas por muitos que acreditam que o importante “é levar vantagem em tudo”. A rigor, nunca seremos um país verdadeiramente republicano enquanto não enterrarmos essa odiosa “lei”.
Ainda estamos longe daquilo que devemos ser. Mas pelo menos, estamos caminhando. Um país, uma sociedade ou uma família nunca podem ser vistos como projetos acabados. Tudo são processos. Nesse sentido, o importante é desenvolver posturas adequadas aos nossos princípios. E é disso que o 15 de novembro nos fala todos os anos. Uma grande República não é aquela que é a mais rica, mais poderosa ou com o melhor desempenho esportivo. Mas é aquela que conta com cidadãos mais conscientes, solidários, éticos e responsáveis. É isso que precisamos comemorar e refletir nesse dia. Nesse sentido, desejo um bom feriado a todos!
Joaquim Mauro Silva, presidente da Fundação Republicana Brasileira