Objetivo da ONU visa reduzir desigualdades tecnológicas e impulsionar o desenvolvimento sustentável; países investem em infraestrutura resiliente e inovação, enquanto o Brasil corre para superar atrasos estruturais
A ONU reconheceu, ao adotar a Agenda 2030 em 2015, que não há progresso socioeconômico sem bases sólidas de infraestrutura, indústria e inovação. O ODS 9, “Indústria, Inovação e Infraestrutura” refletem essa visão: investir nessas metas gera empregos, renda e competitividade, ao mesmo tempo em que promove novas tecnologias e o uso eficiente de recursos. Em uma última análise, fortalecer infraestrutura e a inovação significa reduzir desigualdades e melhorar a qualidade de vida, assegurando um desenvolvimento inclusivo e resistente às mudanças (principalmente as econômicas).
Desigualdades globais em tecnologia e infraestrutura – As disparidades que motivaram o ODS 9 ficam evidentes quando se analisam números. Segundo o Banco Mundial, quase 4 bilhões de pessoas vivem sem acesso à Internet e 675 milhões não possuem eletricidade em casa. Essa carência de infraestrutura básica limita oportunidades e acentua a pobreza. Na esfera digital, a desigualdade é gritante: cerca de 93% da população de países desenvolvidos estava conectada à internet, mas nos países de renda baixa esse índice não chegava a 27%. Essas lacunas tecnológicas comprometem o acesso a serviços financeiros, educação e saúde.
No âmbito industrial, a distância entre nações ricas e pobres também preocupa. O valor agregado da manufatura por pessoa nos países menos desenvolvidos era de apenas US$ 114 em 2018, comparado a quase US$ 5 mil na Europa e América do Norte. Esses dados globais fundamentaram a inclusão do ODS 9: sem corrigir a falta de infraestrutura básica, a defasagem tecnológica e as disparidades industriais, será impossível alcançar um desenvolvimento sustentável e equitativo.
Em resposta a esses desafios, países ao redor do mundo lançaram iniciativas para suprir lacunas estruturais. A China, por exemplo, já investiu cerca de US$ 679 bilhões em infraestrutura em quase 150 países desde 2013, enquanto o G7 anunciou a mobilização de US$ 600 bilhões até 2027 para projetos sustentáveis. Estados Unidos e União Europeia também ampliaram investimentos em transporte limpo, energia renovável e conectividade global. Paralelamente, muitos governos estimulam a indústria verde: energias solar e eólica se espalham em economias emergentes, e a manufatura vem se tornando menos poluente. Entre 2010 e 2016, a intensidade de carbono da indústria caiu cerca de 3% ao ano, mostrando o esforço de conciliar crescimento com sustentabilidade.
Brasil – Por aqui, o ODS 9 expõe tanto deficiências históricas quanto possibilidades de oportunidades recentes. O país enfrenta gargalos em logística, saneamento e conectividade que limitam o crescimento. Estima-se que seriam necessários mais de R$ 200 bilhões extras por ano em investimentos para modernizar e universalizar a infraestrutura nacional. Mesmo na era digital, cerca de 29 milhões de brasileiros permanecem desconectados da internet, evidenciando a exclusão tecnológica em regiões rurais e periferias.
Mas apesar dos desafios, há sinais de progresso. A matriz elétrica brasileira é majoritariamente renovável. O país figura entre os emergentes que mais avançaram em tecnologias limpas nos últimos anos e, em 2022, o BNDES destinou cerca de R$ 45 bilhões a projetos ligados a esse objetivo. Em 2023, o governo federal lançou o Novo PAC, prevendo cerca de R$ 1 trilhão até 2026 em infraestrutura econômica, social e digital. Esse plano prometia triplicar o investimento público anual no setor e prioriza obras sustentáveis. Inclui desde rodovias e ferrovias até a inclusão digital, com recursos para conectar escolas e postos de saúde e expandir redes 4G e 5G pelo interior do país. No mesmo ano, foi instituído o Plano de Transformação Ecológica, uma estratégia de industrialização verde que busca descarbonizar setores produtivos e incentivar tecnologias limpas na indústria brasileira. Mas ainda assim, o país precisa acelerar para cumprir suas metas. Os investimentos em pesquisa e desenvolvimento seguem em torno de 1% do PIB e a produtividade industrial avança lentamente. A continuidade dos programas anunciados e a melhoria na gestão de projetos serão decisivas para que o país colha resultados concretos na próxima década.
Horizonte 2030 – Faltando poucos anos para 2030, muitas metas do ODS 9 estão atrasadas. A meta de dobrar a participação industrial dos países mais pobres dificilmente será alcançada no ritmo atual, e o objetivo de acesso universal à internet até 2020 não se concretizou. Diante disso, a ONU cobra mais cooperação internacional e investimentos urgentes em infraestrutura resiliente e inovação. Entre as metas previstas no ODS 9, a “a” previa aumentar o apoio financeiro e tecnológico aos países em desenvolvimento, enquanto a meta “b” destacava a criação de ambientes propícios à pesquisa e diversificação industrial, fatores essenciais para acelerar o progresso até 2030.
Para o caso brasileiro, isso exigirá manter os investimentos e integrar a agenda sustentável ao planejamento econômico. Se os programas em curso forem levados adiante, o país poderá expandir sua infraestrutura e consolidar uma indústria mais verde e competitiva, com ganhos em desenvolvimento e redução de desigualdades.
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
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