Ler o cenário político é analisar o presente para antecipar o futuro. Essa leitura envolve observar dados econômicos, sociais, comportamentos culturais, falas de lideranças, movimentações partidárias e mudanças na opinião pública
Durante a pandemia da covid-19, a leitura de cenário foi fundamental. Políticos e analistas atentos perceberam o impacto das medidas de isolamento, o papel central do Sistema Único de Saúde (SUS), o desgaste da presidência e a mobilização digital da sociedade. O auxílio emergencial, por exemplo, não apenas socorreu a população como alterou momentaneamente a opinião sobre o Governo Federal.
Outro exemplo foi o ciclo que começou com a Primavera Árabe em 2010 e alcançou o Brasil em 2013. As Jornadas de Junho foram expressões de um novo tipo de mobilização, sem liderança clara, impulsionadas pelas redes sociais e pelo descontentamento difuso. Esse caldo social foi fundamental para a crise que desaguaria no impeachment de Dilma Rousseff.
Hoje, a polarização que marca a política brasileira vive um momento de esgotamento. Pesquisas recentes indicam um cansaço crescente do eleitorado com os extremos. Muitos brasileiros demonstram desejo por alternativas, capazes de dialogar com diferentes segmentos da sociedade.
A leitura do cenário atual revela o ressurgimento do antipetismo, alimentado por escândalos como o do INSS e pela persistente crise econômica. Em contrapartida, o bolsonarismo também sofre rejeição, impulsionada pela memória da má condução da pandemia e pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.
Essas tendências não se manifestam isoladamente. Elas se articulam com transformações geracionais. As gerações Y e Z, marcadas pela hiperconectividade, assumem um papel central tanto nas redes quanto nas ruas. Ao mesmo tempo, o envelhecimento da população e o fim do bônus demográfico colocam os idosos no centro do jogo político, também com o celular nas mãos e com presença digital crescente.
Compreender essas dinâmicas é essencial para qualquer candidatura em 2026. Quem souber interpretar os sinais do tempo, ouvir as vozes dissonantes e compreender os múltiplos Brasis que coexistem sairá na frente. Afinal, na política, mais do que falar bem, é preciso saber ouvir e antecipar.