A possibilidade de reeleição para cargos executivos varia ao redor do mundo e impacta diretamente a dinâmica política. No Brasil, o modelo adotado desde 1997 para presidentes, governadores e prefeitos ainda é alvo de críticas e propostas de mudança
A reeleição para cargos políticos é um tema que suscita debates acalorados em diversas democracias. Enquanto alguns países permitem múltiplas reconduções ao poder, outros impõem restrições rigorosas para evitar a perpetuação de líderes no comando. No cenário internacional, as regras sobre reeleição variam significativamente.
Na Argentina, por exemplo, é permitida a reeleição presidencial para um segundo mandato consecutivo de quatro anos e somente após um intervalo é que o ex-presidente pode concorrer novamente. Já na Rússia, Vladimir Putin, após múltiplos mandatos como presidente e primeiro-ministro, sancionou em 2021 uma reforma que potencialmente lhe permite permanecer no poder até 2036.
Na Alemanha, não há limite formal para o número de mandatos do chanceler. Angela Merkel, por exemplo, ocupou o cargo por 16 anos consecutivos. Algo parecido ocorre na Venezuela. Em 2009, uma emenda constitucional aboliu limites para reeleições, permitindo que Hugo Chávez e, posteriormente, Nicolás Maduro, continuassem no poder por períodos prolongados.
Dessa forma, a recondução de líderes do executivo para os mesmos cargos varia de país para país, não havendo uma regra. O que se nota é que em cada um dos casos, a reeleição reflete a cultura política de cada nação.
O Caso Brasileiro
No Brasil, a reeleição para cargos executivos foi introduzida pela Emenda Constitucional nº 16, de 1997, permitindo que presidentes, governadores e prefeitos se candidatem a um segundo mandato consecutivo. Antes dessa mudança, a Constituição de 1988 não previa a possibilidade de reeleição consecutiva para esses cargos. Entretanto, atualmente, a legislação brasileira estabelece que:
- Presidente da República: pode ser reeleito para um único período subsequente;
- Governadores e Prefeitos: também têm direito a uma reeleição consecutiva;
- Vereadores e Deputados: têm direito a reeleições irrestritas, desde que o candidato seja ficha limpa.
Sendo assim, para os cargos do Executivo, após dois mandatos consecutivos, é necessário um intervalo de pelo menos um período para que o político possa concorrer novamente ao mesmo cargo.
Críticas e Alternativas
Contudo, o modelo de reeleição brasileiro enfrenta diversas críticas desde sua implantação. Há preocupações de que ocupantes do cargo utilizem recursos governamentais para favorecer suas campanhas de reeleição. Considera-se também que a visibilidade e o acesso a recursos daqueles que detém o mandato podem criar um ambiente desigual em relação aos desafiantes.
Como alternativas, algumas propostas incluem a extensão da duração do mandato para cinco anos, sem direito à reeleição, buscando equilibrar a necessidade de continuidade administrativa com a prevenção da perpetuação no poder.
Outra ideia é a implementação de ‘quarentena’ para candidaturas, ou seja, períodos de inelegibilidade temporária para certos cargos, visando evitar o uso indevido da posição atual em campanhas futuras.
Recentemente, o Senado brasileiro tem discutido propostas de reforma política que incluem o fim da reeleição para cargos do Executivo e a extensão dos mandatos. Essas mudanças tentam aprimorar o sistema político, promovendo maior equilíbrio e transparência nos processos eleitorais.
Logo, a reeleição permanece um tema central nas discussões sobre a qualidade da democracia e a eficácia governamental. Equilibrar a continuidade administrativa com a necessidade de renovação política é um desafio constante para legisladores e eleitores em todo o mundo.
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom FRB Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB
Imagem: José Cruz / Ag. Brasil