Categoria: Artigos

  • As Metas do Milênio – Parte 1

    Presidente-Mauro-Silva-215x300

    Diz o ditado que nenhum homem é uma ilha. Tão pouco são os países. Nenhuma nação, nem mesmo a mais rica em recursos naturais, pode se dar ao luxo de prescindir da ajuda de outros povos. Seja porque estamos todos interligados por um mesmo sentimento de humanidade, seja porque ninguém é verdadeiramente rico se estiver cercado de pobreza e miséria.

    Por isso, os países que estão preocupados com o desenvolvimento equilibrado e sustentável de todos os povos lutam para que haja um esforço global e articulado entre as nações para que se chegue a patamares mínimos de desenvolvimento humano. O resultado desse trabalho está resumido nas Metas do Milênio.

    Esse plano foi constituído em 2002 pela ONU (Organização das Nações Unidas) e reúne oito compromissos que todos os países deverão cumprir até o ano de 2015: (I) erradicar a pobreza e a miséria extremas, (II) universalizar o ensino básico, (III) promover a igualdade entre os sexos, (IV) reduzir a mortalidade infantil, (V) melhorar a saúde materna, (VI) combater a AIDS, (VII) garantir a sustentabilidade ambiental e (VIII) criar uma rede mundial de parcerias para que os povos possam se ajudar mutuamente.

    É claro que os governos lideram as políticas públicas necessárias para alcançar as metas. Mas também cabe às pessoas conhecê-las e contribuir para que o Brasil possa dar exemplo e cumpri-las integralmente. E isso pode ser feito de várias maneiras, como por meio da cobrança junto aos governantes pela observância e mobilização em torno das Metas do Milênio.

    A título de colaboração singela, iremos, ao longo de mais oito artigos, avaliar cada uma das metas e mostrar em que estágio de execução elas se encontram no nosso País. Dessa maneira, esperamos colaborar para que cada um, por meio do conhecimento, possa também ajudar à sua maneira na construção de um mundo menos desigual e mais justo.

    Joaquim Mauro Silva

    Presidente da Fundação Republicana Brasileira

     

  • Sejam bem-vindos à essa Casa Republicana!

    Diz-se que, antigamente, recomendava-se a todos que fossem hospitaleiros pois, sem saberem, poderiam estar hospedando anjos! A regra de ontem vale para hoje. E é com espírito que eu quero desejar boas vindas ao site da Fundação Republicana Brasileira!

    Esse é um espaço de troca de idéias e experiências. Queremos disseminar valores e servir de instrumento para a construção de inteligência política, contribuindo para que o Brasil avance no seu processo de amadurecimento democrático.

    Somos vinculados ao Partido Republicano Brasileiro. Dessa maneira, nossa função não é apenas cultivar boas idéias. Mas, na medida em que elas forem surgindo e apurando-se, recorreremos ao canal partidário para aplicá-las, nos constituindo, assim, também como um agente transformador da realidade.

    Considerando a pouca idade da nossa democracia e a juventude da Fundação, a Casa que agora os recebe está apenas no seu início. Como não se começa uma construção pelo telhado, acreditamos esse projeto político só será exitoso se tivermos alicerces fortes, ancorados na participação e na pluralidade das pessoas. Para entrar e trabalhar, basta boa vontade!

    Portanto, na nossa Casa, os hóspedes não devem se acomodar. Pelo contrário, esperamos que todos sejam partícipes e colaboradores dessa obra. Seja contribuindo com conteúdo (cada um trazendo seu tijolinho!), seja debatendo idéias, permitindo que elas ganhem “liga” e sedimentem o republicanismo!

    Navegue bastante, fale, discuta, duvide e participe das nossas atividades! Afinal, todos somos responsáveis por esse projeto chamado Brasil, lugar de todos nós. Fique a vontade e mãos à obra! Afinal, a Casa é sua!

    Joaquim Mauro Silva

    Presidente da Fundação Republicana Brasileira

  • Política e religião

     Por Leonardo Barreto – cientista político

    Dizem que política não se discute. E religião também não. Se isoladamente essas duas questões são tabus, imagine quando elas se misturam? Mas, mesmo sendo um debate difícil, ele é necessário. Especialmente se considerarmos que há hoje no Brasil uma agenda grande de assuntos de políticas públicas que estão sendo tratados no campo das crenças e dos valores morais, como a descriminalização do aborto, por exemplo.

    Religião e política sempre foram ‘irmãs siamesas’ por uma necessidade mútua: monarcas necessitavam que os chefes religiosos os proclamassem os “eleitos de Deus” para poderem contar com a obediência do povo e os chefes religiosos precisavam dos exércitos dos reis para expandir sua crença para outras terras.

    A separação entre política e religião aconteceu muito recentemente. No campo das ideias, quem fez isso foi Maquiavel. Na sua visão realista, seu pecado foi dizer que os líderes políticos possuíam uma ética própria e que ela nem sempre combinava os valores religiosos. E dava um conselho às pessoas moralmente elevadas. Elas até podem tentar aplicar à política os seus rígidos códigos de conduta, mas devem estar conscientes de que estarão lidando com pessoas que não fazem isso. Foi nesse sentido que ele afirmou:  “Aquele que deixa o que se faz pelo que se deveria fazer aprende a se arruinar em vez de se preservar”.

    Historicamente, quem acelera o processo de secularização do Estado são os protestantes. No início, eles foram alvos de perseguições sanguinárias. Talvez por esse motivo, quando tiveram a chance deles próprios fundarem um Estado, estabeleceram que religião era algo de foro íntimo e pertencente unicamente ao universo particular das pessoas. O Estado, portanto, deveria ser radicalmente laico.

    Essa posição não significa que o Estado não devesse promover valores. Pelo contrário, ele possui uma grande importância normativa. Mas os valores deveriam estar ligados ao desenvolvimento do civismo, à cidadania e ao patriotismo. Qualquer coisa que envolvesse Deus ou crenças religiosas deveria ficar estritamente por conta da religião.

    No Brasil, essa separação acontece na fundação da república e ninguém duvida que o país conseguiu construir um Estado laico. Apesar de alguns resquícios e sinais do período em que o Estado professava uma religião oficial, como crucifixos em repartições públicas, por exemplo, o fato é que as políticas públicas não descriminam ninguém em virtude da sua crença.

    Entretanto, a relação entre política e religião volta à baila constantemente. Nos anos 70, por exemplo, as bancadas religiosas se mobilizavam no Congresso para impedirem que a mulher ganhasse o direto ao divórcio, em um debate que durou quase uma década. Atualmente, discute-se descriminalização do aborto, adoção de crianças por pessoas homossexuais, políticas de combate à homofobia, liberação entorpecentes, entre outros.

    É ingênuo acreditar que o Estado possa ignorar as crenças e os valores das pessoas no momento de decidir sobre esses temas. Mas também é igualmente ingênuo querer resolver essas questões apenas com base na imposição de crenças religiosas, ignorando que elas se referem a problemas reais aos quais as políticas públicas devem dar respostas.

    Há solução fácil? Creio que não. Sendo difícil construir consensos, resta a alternativa do debate e da disputa. Mas é importante que tudo aconteça no campo das ideias e que ambas as partes alimentem respeito mútuo. Nada pode ser “a ferro e fogo”. Da mesma maneira que o Estado não pode ser insensível às crenças das pessoas, também não pode mais ser utilizado para professar uma ou outra religião. Esse período já passou e o mundo ainda tem na memória os milhões e milhões de mortos que a radicalização dessas ideias gerou em outros tempos.

    Foto: Jessé Vieira