Categoria: Artigos

  • Brasil recebe Conferência Cartagena+30

    Ainda no rescaldo das eleições, em que surgiram noticiosas informações dando conta de que o País estaria dividido, as instituições brasileiras dão o exemplo contrário e se prepararam para sediar a Conferência Cartagena+30, em Brasília. O evento tratou dos refugiados do mundo, cuja dimensão da gravidade social não desperta as pessoas, porque, em geral, só com o fisicamente próximo nos sensibilizamos.

    A escolha do Brasil como sede do evento não foi uma estratégia de propaganda, foi devido ao nosso povo ter um sentimento humanitário que extrapola as fronteiras, e de ter um papel pioneiro e de liderança na proteção internacional aos refugiados de países sem paz. É o reconhecimento internacional de que somos um país acolhedor e desprovido de preconceito por questões de religião, etnia e de sexo. O Brasil foi o primeiro do Cone Sul a ratificar a convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados.

    O principal tópico da Convenção sobre os Refugiados, que aconteceu no início deste mês, foi sobre o infortúnio dos apátridas. Dos refugiados, os apátridas são aqueles que vivem uma situação mais dramática. Eles não têm uma nacionalidade reconhecida; não possuem os mínimos direitos, como um documento de identificação. São como zumbis; vivem como uma “não pessoa”,andando pelas ruas, cujo calçamento não lhes percebe a pisada.

    Ainda hoje, existem 27 países que negam às mulheres transferir aos filhos a própria nacionalidade. Ao nascerem sem a proteção paterna, não pertencem legalmente às mães e a nenhuma terra. Não têm sequer direito a um nome. Como não podem ter certidão de nascimento, os governos não se preocupam com um mínimo de proteção à vida deles. Vivem fugindo da violência, atravessando fronteiras e sobrevivem ao Deus dará.

    Este é um problema humanitário dos mais sérios. Hoje, mais de 50 milhões de pessoas são consideradas refugiadas. É um número maior de pessoas fugindo do que aquelas que sofreram com a 2ª Guerra Mundial. Os refugiados de hoje deixaram os lares, a comunidade dos ancestrais; fogem da instabilidade política para tentarem encontrar alguma segurança e amparo.

    O povo brasileiro tem o histórico de acolher. Além de ser o primeiro a reconhecer o estatuto de refugiado e lhes conceder direitos especiais. Têm direito e deveres específicos, que proíbe ao Brasil o rechaço, a deportação e a expulsão. Essas pessoas quando chegam aqui podem ter documentos, trabalhar, estudar como qualquer brasileiro, tanto que a Agência da ONU para Refugiados considera a nossa legislação uma das melhores do mundo.

    É um orgulho esse conceito internacional, porque temos afeto para acolher. Como se nota do testemunho de um pai de família, que desde os dois anos de idade foge de conflitos na África. Antes de ele chegar ao Brasil, com a mulher e filhos, passou por quatro países sem documentos, escapando de genocídios étnicos e religiosos. -“Estou cansado de ser um ninguém. Se o Brasil me der a nacionalidade, sentirei que sou um ser humano.”

    A guerra na Síria vem provocando um deslocamento humano assustador. Mais de 3 milhões de sírios deixaram a própria terra. Muitos deles vieram para o Brasil. De quase 8 mil refugiados que aqui chegaram, a maioria é de sírios. Mais de 1,5 mil sírios fugiram para cá. Vieram por raízes familiares e por saber que o Brasil é uma terra de oportunidades, com um povo gentil com os estrangeiros. Um deles está no Rio de Janeiro e afirma que se depender dele nunca mais sairá daqui.

    Esta Conferência em Brasília sobre a infelicidade desses milhões de refugiados me fez lembrar sobre o que ouvimos depois das eleições. Falaram até em separar, mas nunca imaginaram como é sentir a insegurança despersonalizada dos refugiados.

    A democracia, já disse um grande pensador, tem uma grande vantagem sobre todos outros. Com ela, nós não precisamos fazer outra constituição a todo o momento; não precisamos impor valores de uma religião, porque cada um escolhe a sua; e, principalmente, não precisamos fazer guerra para nos libertarmos de um governo. Ele sai com o voto, quando não desempenha bem.

    A democracia é garantia de segurança institucional, porque o governo não pode tudo. Ele está obrigado a seguir ritos e os ritos são dados pela própria democracia.

    George Hilton é deputado federal e líder do PRB na Câmara

  • Porque a operação Lava Jato está mostrando que o Brasil mudou para melhor

    Se você ouvisse que a operação Lava Jato está mostrando o quanto o Brasil mudou para melhor, você acreditaria? Pode parecer loucura ou propaganda eleitoral dizer que um escândalo que envolve dezenas de políticos, partidos, o governo federal, alguns governos estaduais, as maiores construtoras do país e a Petrobras esteja mostrando que ventos novos estão soprando por aqui, mas não é.

    Sem querer parecer ingênuo (único pecado que a política não admite), o fato é que nunca houve um ambiente institucional tão hostil para suspeitos de corrupção como há agora. Tudo resultado de um processo paulatino e incremental de mudanças que, sem que muita gente percebesse, fez com que a lei passasse a jogar a favor de quem vigia e investiga.

    A operação Lava Jato dificilmente teria chegado onde chegou sem a nova lei do crime organizado, aprovada pelo Congresso Nacional em 2013. Foi ela que potencializou o instrumento da delação premiada que serviu de catalizador das denúncias feitas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef. Os acordos de leniência previstos na lei de defesa econômica estão sendo importantes para que as empresas colaborarem em troca do alívio penal e quando a Lei Anticorrupção, aprovada também em 2013, for regulamentada, não apenas os executivos de empresas responderão criminalmente, como as pessoas jurídicas que eles representam poderão sofrer consequências. A tendência é que as companhias criem regulamentações éticas mais rígidas para controlar o comportamento dos seus operadores e melhorem suas estruturas de governança.

    No campo político, duas mudanças tornaram os políticos envolvidos com corrupção mais suscetíveis de punição. A primeira é a conhecidíssima ficha limpa, que retira das disputas eleitorais personagens com condenação em segunda instância. Criada em 2010, ela foi fruto de uma intensa campanha da sociedade civil que apresentou a ideia na forma de um projeto popular e pressionou o Congresso Nacional pela sua aprovação. A segunda é o fim do voto secreto em processos de cassação parlamentar, aprovado em 2013 sob o calor gerado pelas manifestações de junho. Com as pessoas vigiando o voto dos parlamentares, dificilmente algum réu com indícios de problemas sobreviverá a julgamentos de perda de mandato.

    Sobre o funcionamento da Justiça, recentemente o Supremo Tribunal Federal decidiu mudar o seu regimento interno, transferindo o julgamento de autoridades com direito a foro privilegiado do plenário para as turmas, diminuindo o número de julgadores de onze para cinco. O objetivo é reduzir o tempo dos julgamentos pelo menos pela metade, dado que passa-se a ter com a alteração menos votos para serem lidos, menos juízes para pedirem vistas ao processo, menos movimentos protelatórios, etc. Como sinal de que a medida é efetiva e torna a vida dos acusados mais difícil, o ato do Supremo despertou a reação do Congresso Nacional, que entrou com uma ação de inconstitucionalidade para reverter a medida.

    Tudo isso sem falar da independência do Ministério Público, garantida pela Constituição de 1988 e pela decisão política do fortalecimento da autonomia da Polícia Federal, que data de antes deste governo.

    É natural que governantes queiram obter o crédito pelas mudanças institucionais relatadas. Isso sempre vai acontecer e, convenhamos, será muito bom para o país se o combate efetivo à corrupção se tornar um poderoso ativo eleitoral, pois teremos mais gente empenhada nisso. No entanto, a variável que melhor explica os acertos recentes é a vigilância e a pressão da sociedade. Não é coincidência que o fim do voto secreto para cassações e as leis de combate ao crime organizado e anticorrupção tenham sido aprovadas em 2013. Mesmo reconhecendo que há mérito quando as organizações de poder são sensíveis às demandas de seus cidadãos, o verdadeiro fator de mudança é a presença das pessoas no processo político.

    Há uma agenda enorme ainda por enfrentar, como a reforma do judiciário, do processo penal, entre outros. Como trabalhos de construção institucional nunca ficam prontos, precisando sempre de aprimoramentos, o importante é saber que estamos caminhando em uma boa direção. Durante a campanha, a presidente Dilma sinalizou com cinco projetos que aumentam o cerco à corrupção e seria muito bom que ela cumprisse com sua palavra. No entanto, a esta altura, já espero que tenha ficado claro que o que faz a diferença é a eterna vigilância (e cobrança) das pessoas, como dizia Thomas Jefferson.

    Sem deixar de reconhecer o mérito do juiz paranaense Sérgio Mouro, que hoje é candidato a substituir o ex-ministro Joaquim Barbosa como herói nacional, a recuperação recorde de recursos desviados, a colaboração de empresários e o receio geral, que tomou conta do meio político é consequência de um aprimoramento institucional intenso e importante que vem acontecendo desde a redemocratização. Além disso, se é bom que um país tenha capacidade de produzir heróis, não é recomendável que um povo dependa deles. Um bom país se faz com a aplicação de boas regras.

    *As opiniões correspondem ao autor do texto e não necessariamente expressam o posicionamento da Fundação Republicana Brasileira e do Partido Republicano Brasileiro 

    Por Leonardo Barreto, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília e coordenador acadêmico da FRB*

  • A educação política com ação transformadora

    Política é aquele tema importante, de interesse inegável, que muitos consideram maçante. E talvez o seja, quando não conseguimos enxergar sua aplicação no dia a dia. No entanto, mais que indignação por conta da situação atual e de tudo o que acontece em contrariedade aos seus princípios, a política deveria gerar em nós o desejo de compreender, de perceber, de cada vez mais estudar. E fazer crescer o súbito desejo de fugir do senso comum.

    É necessário, antes de tudo, conhecer aquilo que criticamos. E quando falo em crítica, considero opiniões positivas, negativas e imparciais. Todas. Ou seja, para formar uma opinião devemos buscar informação de qualidade, debater, questionar com os amigos, familiares, vizinhos, conhecidos. Ler, comparar, considerar, ponderar. E a partir disso, entender. Parece complicado, mas não é. Precisamos apenas estar abertos, disponíveis, interessados.

    Por este motivo, defendemos que política deve ser ensinada desde cedo. Nossas crianças, adolescentes e jovens precisam entender o ambiente que os cerca e quem toma as decisões importantes, que afetam diretamente suas vidas. Política e cidadania deveriam ser disciplinas específicas nas escolas desde os primeiros anos, quando a criança ainda está aprendendo a contar.

    Tão importante quanto matemática, português, ciências e tantas outras disciplinas, o tema é fundamental para ser debatido em sala de aula. Se nosso objetivo ao levar nossos filhos ao colégio é contribuir para que sejam educados e conhecedores dos principais assuntos que permearão seu presente e futuro, por que excluímos a política?

    De que forma utilizamos todo o conhecimento adquirido? O ideal é aplicar o aprendizado diariamente, para que não venhamos a esquecê-lo. Mas como canalizar tantas informações a respeito de tantas coisas? É semelhante àqueles temas complexos que aprendemos na escola e dificilmente utilizaremos rotineiramente na vida prática.

    Por exemplo, é essencial sabermos calcular, seja para uma compra no supermercado, na padaria, um problema no trabalho, ou para controlarmos as finanças pessoais. Mas quantas vezes por ano utilizamos logaritmos e polinômios? Embora devamos aprendê-los, eles talvez fiquem adormecidos no dia a dia.

    Um matemático pode contribuir com questões administrativas, econômicas e científicas para o mundo. Um biólogo pode ser excelente em causas ambientais. Um especialista em Letras pode atuar em projetos literários e educativos importantes. Cada uma das pessoas e profissionais, desde aqueles hierarquicamente considerados menores pelo sistema, até os que ascendem no topo das pirâmides sociais, podem fazer algo importante. Mas quantos são capazes de realmente mudar tudo?

    Apenas por meio da educação política é possível criar cidadãos engajados e dispostos a transformar o meio em que vivem. Qualquer um, independente de idade, sexo, cor da pele, posição social e grau de instrução, pode ser um agente de mudança. É por isso que a Fundação Republicana e várias outras instituições privadas investem em cursos, palestras e debates políticos. Nosso objetivo é que todos tenham a oportunidade de estar preparados e participar das boas ações que a política, em sua real essência, pode promover. E atentos, na hora de fazer as melhores escolhas, seja em casa, na escola, na faculdade, no trabalho, com os amigos e, especialmente, nas urnas.

    Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira

  • A reforma política e a fé democrática

    Países com democracias mais antigas nos ensinam que, de tempos em tempos, a fé democrática precisa ser renovada. Bem diferente do que possa parecer, isso não acontece apenas nas eleições e nos momentos de júbilo. Pelo contrário, os maiores testes e aprendizados ocorrem nos momentos de crise.

    A fé democrática é a confiança que as pessoas sentem em relação ao princípio de que instituições controladas pela sociedade não apenas são as melhores em termos de resultados sociais e econômicos, como também são as mais corretas do ponto de vista ético.

    Ela entra em crise quando há uma percepção generalizada de que o governo e as demais organizações que orientam a vida pública (como judiciário e legislativo) se mostram insensíveis às demandas das pessoas. Os principais sintomas dessa “doença” são impunidade, falta de prioridade e de cuidado nos gastos públicos, déficit de transparência, a falta de diálogo e a exclusão de grupos do processo de decisão.

    As democracias vivem ciclos que alternam crise e reforma. A capacidade de encontrar soluções para seus problemas sem ter que recorrer a rupturas é o grande elemento que a diferencia de outros regimes. Enquanto crises em ditaduras provocam o desmonte de todo o país, em situações democráticas, as crises levam ao aprimoramento das instituições, às mudanças de comportamento e à evolução política.

    Há vários exemplos sobre isso na história do mundo e do Brasil. Nos Estados Unidos, durante muito tempo, a democracia eleitoral conviveu com a discriminação racial no seu mais alto nível. As lutas pelos direitos civis quase lançaram alguns estados em situação de conflito aberto. Hoje, a despeito dos muitos ressentimentos e das desigualdades que ainda persistem, o país é governado por um presidente negro.

    No Brasil, um período longo de inflação transformou a responsabilidade e a transparência fiscal dos governantes em um valor inegociável. Da mesma forma, ao longo dos anos, o controle popular vai conseguindo extinguir privilégios que datam de tempos remotos, como o fim do voto secreto dos deputados, a extinção de remunerações extras, o impeachment de presidentes comprovadamente corruptos sem o rompimento do regime democrático, as políticas de superação de desigualdades sociais, de gênero e de raça e a inclusão educacional, entre muitos outros avanços.

    Mas eis que estamos face a face com outro desafio: a reforma política. Não é de hoje nem deste ou daquele governo, que estamos assistindo ao desgaste da confiança da população em relação aos partidos políticos, aos políticos e aos governos de maneira geral. As jornadas de 2013 foram apenas o ápice de um processo que vem, de escândalo em escândalo, roendo a legitimidade da democracia brasileira.

    É curioso que hoje vivemos uma situação paradoxal no Brasil. Enquanto avançamos profundamente em alguns temas, outros parecem parados no tempo, congelados pela resistência de interesses, que não fazem mais parte do pensamento e dos valores prezados hoje pela sociedade. Por isso, apesar de haver consenso sobre a necessidade de mudar o país, não se consegue fechar uma agenda ampla e orgânica a respeito do que pode ser feito.

    Na minha avaliação pessoal, o primeiro passo para começar a resolver esta equação é traçar um diagnóstico correto. Nesse aspecto, acredito que o objetivo da reforma deve ser devolver confiança às pessoas, modificando os aspectos que mais incomodam a população.

    Por isso, seria muito bem vindo se, antes dos especialistas falarem sobre as mudanças dos sistemas eleitorais para os modelos americano, alemão ou japonês, que nós pudéssemos refletir primeiro em grandes fóruns promovidos dentro e fora do Congresso, sobre o que realmente pode ser feito para renovar a fé democrática das pessoas.

    Voltando às manifestações de 2013 e aos seus milhares de cartazes, ouso propor uma lista de prioridades. Em primeiro lugar, é preciso combater a impunidade, pois ela é altamente ofensiva. As pessoas ficam indignadas quando um caso de corrupção ocorre e muito mais revoltadas quando pensam que o culpado ficará impune ou que pegará uma pena leve.

    Essa discussão também envolve a velocidade da apuração e do julgamento. A lentidão cria no cidadão o mesmo efeito provocado pela ausência de punição. Lembrando a frase eterna de Rui Barbosa, “quando a justiça tarda, ela já falhou”.

    O segundo ponto é o custo do sistema político. As campanhas são muito caras e a discussão não pode ficar restrita ao tipo de financiamento adotado, se público ou privado. É preciso estabelecer limites de valores para as campanhas, estabelecendo tetos máximos para as campanhas. Haverá sempre quem queira furá-lo com o caixa 2, mas aí o problema seria de fiscalização.

    O terceiro ponto é a eleição para o Congresso, Assembleias Legislativas e Câmara de Vereadores. Hoje, de cada dez votos dados para candidatos a cargos no legislativo, apenas três viram mandatos. Se 70% dos eleitores não escolhem candidatos vencedores, como podemos cobrar das pessoas que fiscalizem o seu representante?

    Além disso, eleições servem para reunir milhões de opiniões diferentes e transformá-las em um caminho mais ou menos único. No legislativo, o sistema de listas abertas faz o contrário, desagregando ao invés de agregar, privilegiando a defesa de interesses específicos em detrimento das questões gerais da nação.

    Mesmo uma agenda tão pequena como essa certamente levantará muita polêmica. No entanto, as diferenças estão aí para serem resolvidas e o país precisa muito passar neste teste, para que um novo período virtuoso seja iniciado.

    Há outros temas importantes, como o voto facultativo, as regras de financiamento e o uso de um plebiscito para aprovação das mudanças, por exemplo. Mas o importante é saber que o Brasil tem maturidade e gente inteligente em número suficiente para solucionar seus problemas, desde que se parta de uma contextualização correta e de um diagnóstico estratégico preciso, que tenha como norte a renovação da fé das pessoas nas instituições democráticas.

    *As opiniões correspondem ao autor do texto e não necessariamente expressam o posicionamento da Fundação Republicana Brasileira e do Partido Republicano Brasileiro 

    Por Leonardo Barreto, Doutor em Ciência Política pela Universidade de Brasília e coordenador acadêmico da Fundação Republicana Brasileira*

  • Assim construímos um País

    Diz a parábola que sábio é aquele que ergue sua casa sobre a pedra, pois a base forte garantirá sua segurança contra as tempestades e a sobrevivência do seu lar por muitos anos. O ensinamento nos lembra como devemos edificar nossas vidas, como ela se torna mais tranquila e produtiva quando é assentada sobre os bons valores.

    O princípio também é  válido para a sociedade. Com toda certeza, podemos dizer que feliz é a nação que conta com chão firme, cujas gerações atuais sempre deixam condições de desenvolvimento melhores para quem vem depois. A base da construção de uma sociedade é o seu povo e nada lhe confere mais solidez para enfrentar as crises e as provações do que a firmeza de propósitos, a clarividência de objetivos e a disposição para o trabalho.

    A Fundação Republicana Brasileira acredita que a única receita de uma base sólida é a educação. Ela produz agentes habilitados para servir ao país na identificação correta das suas necessidades e na solução dos seus problemas, além de constituir cidadãos cientes e zelosos das suas responsabilidades. Por meio dos nossos diversos cursos de formação política e de capacitação em línguas, gestão pública e demais habilidades, ajudamos a formar cidadãos, a base essencial para uma sociedade sadia.

    Com o novo portal que inauguramos agora, potencializamos nosso alcance e colocamos mais uma pedra na construção do nosso povo. A internet é hoje uma grande arena pública, um espaço de debates, de protestos, de mobilização e de aprendizado. Se bem utilizada, seu potencial transformador é enorme e agora ela está à serviço da disseminação do republicanismo.

    Apresentamos uma ferramenta atraente, didática, inteligente, simples e a colocamos a disposição das pessoas, independente da sua filiação partidária ou de qualquer outra ordem. Todos são bem vindos! Convidamos todas e todos que usem e explorem esta oportunidade de crescimento pessoal e cívico, buscando o conhecimento indispensável ao nosso crescimento. Quanto mais preparados estivermos, mais segura será a base para a edificação deste querido país chamado Brasil. Portanto, bons estudos!

    Mauro Silva, presidente da Fundação Republicana Brasileira

  • Por um Brasil de pessoas independentes!

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    Responda rápido: o que faz um país verdadeiramente independente? Os livros acadêmicos vão responder que é a soberania, quer dizer, a capacidade de um povo de se autogovernar pelas suas leis. Sob esse prisma, os brasileiros conquistaram independência em 1822, quando D. Pedro I rompeu com a sua família e declarou o Brasil uma pátria soberana.

    Mas é preciso ir mais fundo nessa discussão.

    Deixando as definições formalistas de lado, ser independente é ter a capacidade de andar com as próprias pernas. E, considerando que, quando falamos de Brasil, estamos nos referindo às pessoas que aqui vivem, a pergunta que realmente importa é se o nosso povo, ou a maior parte dele, anda com a cabeça erguida e segundo as suas próprias convicções?

    O ponto é que a Independência não é uma data histórica, um evento que ficou lá atrás. Ela é, antes de tudo, um compromisso pela emancipação do ser humano, dos nossos concidadãos que, por algum motivo, ainda não conseguem ter a oportunidade de realizar as suas potencialidades.

    As condições para uma população ser independente são a liberdade de pensamento, condições para que todos possam se desenvolverem material e intelectualmente e a ausência de barreiras que discriminem e limitem as possibilidades de uns, como o preconceito racial, de gênero e social. Portanto, o “grito do Ipiranga” deve ser dado todos os dias. Ele está nas políticas educacionais e também na distribuição de renda, desde que esteja voltada para tornar o indivíduo mais senhor de si, e menos dependente do Estado.

    Temos a oportunidade de reafirmarmos os valores da nossa civilização e a emancipação do brasileiro em relação às suas principais mazelas. Este compromisso está pautado no equilíbrio ético entre o desenvolvimento e as liberdades individuais de um lado e a solidariedade e a busca de uma sociedade mais equilibrada e justa por outro.

    Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira 

     

  • O PRB é filho e prova da democracia

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    O PRB completa nove anos de idade. Durante este tempo, é emocionante acompanhar o seu crescimento, que acontece em todas as dimensões: número de filiados, candidatos eleitos, diretórios abertos e alunos, muitos alunos, pois o PRB aposta nos cursos oferecidos pela sua Fundação como grande instrumento de relacionamento e interação com a sociedade.

    No entanto, mais do que comemorar, o momento exige uma reflexão. Ela vale principalmente para nós, que apostamos e fazemos parte do PRB, para percebermos a nossa responsabilidade e o nosso lugar na história brasileira. O PRB é filho de um novo momento cuja principal característica é a democratização do jeito de fazer política. Ele é um dos primeiros e mais legítimos representantes de uma era onde a política passou a ser feita de baixo para cima, da sociedade para o Estado.

    Explico: o nosso atual sistema partidário data do início dos anos 80. Para frear o sentimento oposicionista que faria o antigo MDB vencer as próximas eleições para o Congresso Nacional, os militares decidiram tornar livre o surgimento de novas legendas para fragmentar e enfraquecer seus adversários. Foi nesse período que surgiu a imensa maioria dos nossos partidos.

    Tudo bem, se não fosse por um detalhe. Como a abertura aconteceu de uma hora para a outra, os partidos foram formados a toque de caixa, dentro dos gabinetes da Câmara e do Senado. Mesmo as legendas ditas populares foram criadas em cima, para depois buscarem o apoio embaixo. Por um lado, era o que dava para fazer. Por outro, os partidos começaram a padecer muito cedo de falta de legitimidade, de sustentação. Não por acaso, esta é uma das principais causas da crise de representatividade que o sistema político brasileiro vive atualmente.

    O PRB, por sua vez, nasce de outra forma e em outro tempo. Longe dos gabinetes, o partido foi criado a partir das assinaturas de milhares de pessoas, organizando-se de baixo para cima. Este é um detalhe que faz toda a diferença, pois o partido emerge forjado nas ruas, costurado em torno de compromissos entre e com as pessoas, fazendo dele um fiador mais zeloso do que aquelas legendas que foram criadas sem que nenhuma assinatura popular fosse necessária.

    O famoso pensador Maurice Durveger dizia que a característica presente no nascimento de um partido irá acompanhá-lo por toda a sua existência. Se a participação de poucos marcou a certidão de criação das outras legendas, uma multidão de boas pessoas testemunhou a nossa. Somos filhos legítimos da democracia e sermos responsáveis, abertos à participação, transparentes e detentores de um apurado senso de priorização das urgências nacionais é a nossa sina. A rua é a nossa manjedoura e é para ela que existimos.

    Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira

  • “Não desistam do Brasil”

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    A frase acima foi dita por Eduardo Campos em sua última entrevista, feita ao Jornal Nacional na véspera do acidente que interrompeu sua vida. Ao pronunciá-la, sem saber, ele ditou o seu testamento.

    O pedido, quase uma convocação, foi uma maneira nobre de se despedir: está cheia de esperança, passa muita convicção e, acima de tudo, alerta que o nosso futuro depende única e exclusivamente de nós mesmos.

    A participação nas centenas de cursos de política que a Fundação faz por todo o Brasil me permite entender toda a extensão da última frase de Campos. Não raro, nos deparamos com pessoas que perderam toda a fé na política. A apatia, a revolta e a falta de esperança são os sentimentos mais comumente encontrados por aí.

    E, a exemplo de Campos, tentamos virar o jogo, convencendo as pessoas que a política é o que fazemos dela e que a timidez dos bons é tão ruim e prejudicial quanto a audácia dos maus.

    Apesar de estarmos em partidos diferentes, a mensagem passada por Campos é universal. Precisamos assumir nossa responsabilidade e tomar as rédeas da condução da nossa vida coletiva. Acordar, trabalhar e participar é, sem dúvida, a melhor forma de homenagear a Campos e tantos outros que se dedicam e que nunca desistem do Brasil.

    Que Deus console a família de Eduardo Campos, as famílias de todos os envolvidos neste trágico acidente e ao povo pernambucano.

    Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira

  • O Acre e a vontade de ser brasileiro

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    Em tempos de Copa do Mundo, o brasileiro experimenta momentos de patriotismo. Este sentimento aflora principalmente no início das partidas, durante a execução do hino nacional: a voz embarga, os olhos enchem de água e nós nos sentimos brasileiros.

    O esporte proporciona essas coisas. De certa maneira, ele substitui a guerra como espaço e forma de afirmação do orgulho nacional. Mas ele vive essencialmente de grandes batalhas mundiais organizadas em eventos como as olimpíadas e a copa do mundo, entre outros.

    Quando as competições passam, o patriotismo adormece. Correto? Sim, a não ser, pelo menos, em um lugar. E este é lugar é o Acre.

    Nunca vi tanta vontade de ser brasileiro como vi em Rio Branco, capital do estado acreano. O patriotismo está encravado no coração deste povo que, a rigor, foi o único que pegou em armas para poder fazer parte do Brasil. Na sua fundação,  sob a liderança de Plácido de Castro, os colonos lutaram contra os bolivianos para, um vez independentes, passarem a compor o território nacional.

    A história está viva por toda parte. Está nos nomes das ruas, nos museus bem conservados e no hino acreano, que todos fazem questão de cantar durante as ocasiões cívicas, juntamente com o hino nacional. Mas nem só de passado vive o acreano.

    Passeando pelo cais do porto de Rio Branco, é possível sentir toda a vitalidade e a pluralidade de ser brasileiro. Em pouco mais de 400 metros de caminhada é possível enxergar o nosso caldeirão cultural em toda a sua complexidade e complementariedade.

    No dia que estive lá, numa das pontas do cais haviam católicos agradecendo pela diminuição das chuvas. Próximo a eles, debaixo de um tenda, um grupo de evangélicos encenava uma peça falando da importância da aceitação de Jesus na recuperação de um alcóolatra, emocionando todo mundo que ali estava. Cerca de 100 metros à direita um grupo de capoeiristas (chamado Brasil) jogava e cantava suas músicas em frente a um restaurante (que também se chamava Brasil). Por fim, andando mais um pouco, passando por entre os bares, era possível sentar e escutar um músico tocando MPB e rock nacional com seu violão.

    É comum por aqui escutar piadas de que o Acre não existe. Estando lá, passei a concordar com elas. Esse estado e esse sentimento realmente não existem. Lá é um lugar único e mágico. No coração da floresta é possível sentir um Brasil genuíno e pulsante, um patriotismo magnético que faz emocionar tanto quanto o hino cantado à capela. Dizem que o Acre é o fim do mundo. Mas nisso eu discordo. O Acre não é o fim, mas é o início e o centro de uma brasilidade forte e ingênua, como normalmente são as coisas boas.  Que o resto do Brasil possa aprender com o Acre o que é a vontade de ser brasileiro.

    Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira 

  • Vira latas? Eu? Não, obrigado…

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    Segundo Nelson Rodrigues, a derrota do Brasil para o Uruguai em 1950 criou no brasileiro um “complexo de vira latas”: a incompetência dos campos transbordou as quatro linhas e grudou em todos os aspectos da vida cotidiana. A partir daí, nada adiantava, se tivesse um brasileiro no meio de qualquer coisa, iria sair malfeito, seria desonesto e muito provavelmente não funcionaria.

    Não sei se esse complexo nasceu mesmo em um jogo. De verdade, acho pouco provável que uma partida tenha tamanho poder. Mas é certo que há no país um orgulho às avessas (para não falar vergonha) em ser brasileiro. É uma sentimento latente, que fica ali guardado e que precisa de pouca coisa para aflorar.

    E ele veio com tudo nesse ano, pois a Copa nos colocou defronte ao espelho. Ela nos expôs ao julgamento do mundo e não apenas em termos desportivos. Nossa infraestrutura, nossa educação, nossa receptividade, nosso preparo profissional, etc… tudo está sob avaliação. Ao final, nós nos veremos através das lentes da imprensa estrangeira e do olhar gringo e quando a Copa acabar, faremos um balanço não apenas da seleção, mas também do país.

    De uma maneira geral, sempre nos foi vendido que eventos tal como a Copa e as Olimpíadas eram privilégios de países ricos e desenvolvidos. Por isso, há sete anos atrás, quando o Brasil foi anunciado o país da Copa, nos vimos esperançosos de que, quando 2014 chegasse, estivéssemos no mesmo nível das sedes anteriores.

    No entanto, muitas falhas de planejamento e de execução aconteceram. Tivemos tantos problemas que não foram poucas as pessoas que disseram que demos um passo maior do que as pernas, que a Fifa transferiria o Mundial para outro país na véspera, que o caos aéreo e terrestre transformariam o Brasil em uma piada internacional.

    Hoje, na metade do mundial, não há caos. As falhas estão aí, atrapalharam e foram noticiadas mas, no geral, tudo está correndo bem, a nossa infraestrutura está suportando a demanda e os estrangeiros estão falando bem da gente. Acho que estamos bem próximos de dizer: conseguimos! A verdade não está nem tanto ao mar, nem tanto à terra: não somos menos capazes do que ninguém. Mas também não temos razões para sermos ufanistas, pois não somos a civilização mais avançada do século XXI.

    Certa vez escutei que bons países são aqueles que sabem identificar e resolver seus problemas. Nesse sentido, toda discussão trazida pela Copa está mostrando que o brasileiro está longe de estar satisfeito consigo mesmo e que está fazendo força para mudar. De coração, eu não espero que o mundo saia daqui achando que temos os melhores estádios, aeroportos e até mesmo o melhor futebol do universo. O que eu espero e desejo é que os nossos visitantes deixem o Brasil com a certeza de este é um país que tem seus problemas mas que tem muito comprometimento para solucioná-los. Que o legado da Copa venha na forma de  força e consciência para continuarmos seguindo em frente sem falsos complexos nem ilusões desmedidas.

    Mauro Silva – presidente da Fundação Republicana Brasileira