Tecnologia na educação: promessa de futuro? – Conjuntura Republicana Ed. nº 209

Tecnologia na educação: promessa de futuro? – Conjuntura Republicana Ed. nº 209

A incorporação de tecnologias no ensino tem sido apresentada como um caminho inevitável para a modernização da educação. No entanto, será que essa promessa se concretiza de forma acessível e inclusiva?

Desde a pandemia, não apenas o Brasil, mas o mundo inteiro passou por uma corrida não planejada para a adoção de ferramentas de colaboração em tempo real, como Zoom, Google Meet e Microsoft Teams.

De fato, a crise sanitária catalisou o processo de digitalização não só no âmbito educacional, mas em diversas esferas da vida cotidiana. No entanto, até que ponto o uso de ferramentas digitais pode ser, de fato, considerado um avanço tecnológico e uma inovação eficaz na educação?

A presença crescente da tecnologia no ambiente educacional trouxe uma série de oportunidades. Um dos avanços mais significativos é o acesso ampliado a conteúdos diversos e de alta qualidade, disponíveis em plataformas como YouTube, Khan Academy e bibliotecas digitais.

Essa variedade de fontes possibilita que os estudantes tenham contato com diferentes perspectivas e metodologias, enriquecendo o processo formativo. Além disso, ferramentas como Google Classroom e Moodle viabilizam aulas mais organizadas, interativas e acessíveis, favorecendo a comunicação entre professores e alunos.

Não há dúvidas de que houve inúmeros avanços, mas a proposta deste artigo é mostrar que a inovação tecnológica, por si só, não é suficiente.

Embora o governo tenha prometido conectar todas as escolas à internet até 2026, a realidade ainda é bastante distante.

Segundo matéria divulgada pelo jornal Estadão, o Governo inflou os números sobre a quantidade de escolas públicas com internet adequada. Enquanto o medidor oficial do próprio Ministério da Educação aponta que apenas 49,4% das unidades possuem velocidade de conexão compatível com os parâmetros do programa Educação Conectada, o balanço divulgado pelo MEC eleva esse percentual para 60%.

Essa diferença se deve à metodologia utilizada: o relatório oficial considera a existência de qualquer tipo de conexão de internet, enquanto o medidor avalia a velocidade real oferecida nas escolas. Essa distorção compromete a transparência das informações públicas e oculta a precariedade de infraestrutura que ainda afeta grande parte da rede de ensino.

A modernização da educação por meio da tecnologia, além de considerar as diferentes realidades regionais, precisa também ser pensada de forma intergeracional.

Como o processo educativo não acontece apenas no ambiente escolar, os pais também precisam estar preparados para acompanhar essa nova forma de aprendizagem dos filhos.

A tecnologia, embora ofereça instrumentos valiosos para aprimorar a educação, não pode ser tratada como uma solução mágica para problemas estruturais antigos. A promessa de um futuro moderno e conectado só será efetiva se acompanhada de políticas públicas comprometidas com a inclusão digital real. Sem isso, corre-se o risco de aprofundar ainda mais o abismo educacional entre aqueles que têm acesso pleno aos recursos tecnológicos e os que permanecem à margem da revolução digital.

 

Texto: Fábio Vidal (Coordenador do NEP)

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