A agenda da ONU para 2030 busca transformar centros urbanos em espaços mais inclusivos, resilientes e ambientalmente responsáveis, mas os desafios são imensos
As cidades representam o epicentro da vida contemporânea e, até 2050, aproximadamente 77% da população mundial viverá em áreas urbanas, segundo projeções da Organização das Nações Unidas (ONU). No entanto, esse crescimento acelerado expõe desigualdades profundas e agrava desafios ambientais, sociais e econômicos. Para lidar com essas questões, a ONU incluiu o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11 (ODS 11) em sua Agenda 2030, focado na construção de cidades e comunidades mais inclusivas, seguras, resilientes e sustentáveis.
A crise urbana e os desafios globais – Hoje, cerca de um bilhão de pessoas vivem em habitações irregulares, expostas a riscos ambientais e à falta de infraestrutura adequada. Além disso, os centros urbanos são responsáveis por 75% das emissões globais de carbono, intensificando as mudanças climáticas e seus impactos. Entre os principais desafios enfrentados pelas cidades contemporâneas estão o déficit habitacional, o acesso desigual a serviços básicos, a mobilidade urbana precária e o aumento da vulnerabilidade a desastres naturais.
O ODS 11 busca soluções globais para esses problemas, promovendo políticas públicas integradas que contemplem o desenvolvimento sustentável, o planejamento urbano eficiente e o acesso equitativo aos recursos essenciais.
Metas do ODS 11 e sua interconexão com outros objetivos – A Agenda 2030 é composta por 17 objetivos interconectados e 169 metas que abrangem dimensões ambientais, sociais e econômicas. Assim, o cumprimento do ODS 11 impulsiona avanços em outros ODS, como o ODS 6 (água potável e saneamento), ODS 8 (trabalho decente e crescimento econômico) e ODS 15 (proteção da biodiversidade terrestre).
As principais metas do ODS 11 incluem:
– Garantia de moradia digna e acessível para todos até 2030, incluindo a urbanização de favelas;
– Implementação de sistemas de transporte público acessíveis e sustentáveis;
– Redução dos impactos ambientais adversos das cidades, especialmente na qualidade do ar e na gestão de resíduos;
– Fortalecimento da resiliência urbana diante dos desastres naturais;
– Proteção do patrimônio cultural e natural.
Mobilidade urbana e planejamento sustentável – Uma das questões centrais do ODS 11 é a mobilidade urbana, que afeta diretamente a qualidade de vida nas cidades. A dependência excessiva de veículos motorizados intensifica os problemas de poluição e congestionamento. Para tentar ao máximo mitigar esses efeitos, governos devem investir em transportes públicos acessíveis e sustentáveis, priorizando infraestrutura para bicicletas e pedestres.
Cidades como Copenhague e Bogotá são exemplos de sucesso nesse sentido, implementando políticas que favorecem o transporte ativo e reduzem a emissão de poluentes. No Brasil, Curitiba tem sido referência em sistemas de transporte coletivo de alta eficiência, inspirando modelos em diversas partes do mundo.
Ameaças climáticas e resiliência urbana – A crise climática impõe desafios cada vez maiores às cidades, que enfrentam eventos extremos como enchentes, secas e ondas de calor. De acordo com o Marco de Sendai para a Redução do Risco de Desastres 2015-2030, uma das estratégias fundamentais é o planejamento urbano adaptado às novas condições climáticas. Medidas como o desenvolvimento de infraestrutura verde, a criação de corredores ecológicos e a adoção de políticas de reflorestamento urbano são essenciais para aumentar a resiliência das cidades.
Inclusão social e desenvolvimento econômico – O desenvolvimento sustentável das cidades passa também pela redução das desigualdades sociais. O ODS 11 propõe a criação de espaços públicos seguros e acessíveis para todos, incentivando a inclusão de comunidades marginalizadas. Além disso, a participação da iniciativa privada é fundamental, promovendo inovação e geração de empregos em setores sustentáveis. Modelos de economia circular e incentivos à construção civil sustentável são alternativas promissoras. Tecnologias como o uso de materiais recicláveis e energia renovável na edificação de novas moradias podem reduzir significativamente os impactos ambientais do setor imobiliário.
A implementação do ODS 11 exige monitoramento constante e cada país adapta seus indicadores conforme sua realidade. No Brasil, o Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC-BR) mede o progresso de municípios em relação às metas da ONU. Em 2021, por exemplo, Morungaba (SP) foi eleita a cidade mais sustentável do Brasil, com 73,4 pontos em 100 no IDSC-BR, destacando-se por sua gestão eficiente de resíduos, preservação ambiental e políticas habitacionais inovadoras.
Desta forma, o cumprimento das metas do ODS 11 exige uma abordagem integrada e a colaboração entre governos, setor privado e sociedade civil. As cidades que conseguirem equilibrar crescimento econômico, preservação ambiental e justiça social estarão melhor preparadas para os desafios do futuro.
Diante da urgência climática e da rápida urbanização, o planejamento sustentável não é apenas uma opção, mas uma necessidade para garantir um futuro mais justo e habitável para todos.
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB
Imagem: Meizhi Lang