Categoria: Cultura

  • Frost/Nixon (2008)

    Frost/Nixon (2008)

    O filme retrata o emblemático confronto entre o jornalista britânico David Frost e o ex-presidente Richard Nixon, revelando detalhes do escândalo Watergate e reforçando o papel da mídia na cobertura política. 

    Lançado em 2008 e com direção de Ron Howard, Frost/Nixon é um drama histórico que mistura tensão, política e jornalismo num retrato de um dos momentos mais emblemáticos da história norte-americana pós-Watergate.  

    Baseado na peça de Peter Morgan, que também escreveu o roteiro, a narrativa se concentra no embate intelectual entre o apresentador britânico David Frost (Michael Sheen) e o ex-presidente Richard Nixon (Frank Langella), que renunciou ao cargo em 1974 após o escândalo Watergate.   

    Contexto histórico   

    O pano de fundo do filme é o período turbulento após a renúncia de Nixon, quando os EUA ainda enfrentavam as repercussões do caso Watergate. O escândalo, que expôs práticas ilegais de espionagem política e abuso de poder, marcou uma crise de confiança sem precedentes na política norte-americana.  

    Nixon, embora tenha escapado de um julgamento criminal graças a um polêmico perdão concedido pelo presidente Gerald Ford, continuou a ser uma figura controversa.   

    David Frost, por sua vez, era conhecido por programas de entretenimento e não exatamente respeitado no meio jornalístico como um entrevistador político de peso. Sua iniciativa de confrontar Nixon foi vista por muitos como uma tentativa de alavancar sua carreira, mas acabou se tornando um marco no jornalismo investigativo.   

    A trama   

    Na obra cinematográfica, acompanhamos Frost enquanto ele luta para garantir financiamento e credibilidade para o projeto, enfrentando ceticismo de jornalistas experientes e o desafio de lidar com a inteligência e a manipulação de Nixon. A preparação meticulosa para as entrevistas, que cobriram temas desde a política externa até o escândalo Watergate, é retratada com uma tensão crescente.   

    O ponto alto ocorre quando Nixon, pressionado por Frost, finalmente admite responsabilidade por suas ações no escândalo. Essa confissão, embora tardia, é considerada um momento histórico, pois forneceu ao público a tão esperada ‘catarse moral’ após anos de traição política.   

    Impacto político   

    Frost/Nixon não apenas lança luz nos bastidores de um episódio crucial da política norte-americana, mas também destaca o papel da mídia como ferramenta essencial de prestação de contas.  

    A obra reitera que o jornalismo sério tem o poder de desafiar autoridades e trazer à tona verdades que muitas vezes ficam escondidas sob o manto do poder.   

    Além disso, a trama ajudou a recontextualizar Nixon ao mesmo tempo em que elevou o status de Frost como um jornalista capaz de confrontar o poder com astúcia e determinação.   

    Com atuações brilhantes, especialmente de Frank Langella, que entrega um Nixon cheio de camadas, e de Michael Sheen, como o determinado Frost, o filme se destaca como uma obra que transcende o drama político. A direção segura de Ron Howard e o roteiro afiado de Peter Morgan mantêm o espectador cativado, mesmo em cenas essencialmente baseadas em diálogos.   

    Sendo assim, Frost/Nixon não apenas reconta uma história, mas convida o público a refletir sobre os mecanismos de poder, a responsabilidade pública de líderes eleitos e o papel do jornalismo em tempos de crise. Mais do que um relato histórico, é um lembrete de que a verdade pode e deve ser perseguida, independentemente de quão poderosa seja a figura em questão. 

     

    Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom FRB Subseção/SP 

    Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB  

    Imagem: Internet 

  • Série Cinema e Política – Meu Vizinho Adolf (2022)

    Série Cinema e Política – Meu Vizinho Adolf (2022)

    Dirigido por Leon Prudovsky, Meu Vizinho Adolf (2022) parte de uma premissa curiosa: e se um velho nazista fugido da Alemanha tivesse se instalado na América do Sul e, por ironia do destino, fosse reconhecido por um sobrevivente do Holocausto? O filme brinca com essa hipótese ao narrar a história de Marek Polsky (David Hayman), um idoso judeu solitário que vive na Colômbia de 1960 e se vê diante da possibilidade de ter Adolf Hitler como seu novo vizinho, Hermann Herzog (Udo Kier). A partir desse encontro, nasce um jogo de desconfiança, perseguição e, paradoxalmente, aproximação entre os dois personagens. 

    A escolha do humor como ferramenta narrativa para tratar de um tema tão denso como o nazismo não é inédita, mas é sempre um risco. Prudovsky aposta em um tom tragicômico que remete à obra A Vida é Bela (1997), de Roberto Benigni, ou à Jojo Rabbit (2019), de Taika Waititi, mas sem o mesmo apelo emocional. Em vez disso, o filme se apoia no sarcasmo e no absurdo da situação, explorando a paranoia de Polsky e a ambiguidade de Herzog, cuja real identidade permanece em suspense até o final. 

    O grande trunfo do filme é sua abordagem sobre memória e ressentimento. Polsky, marcado pelas cicatrizes do Holocausto, não consegue aceitar a possibilidade de um nazista escapar impune. Já Herzog, seja ele Hitler ou não, representa a presença fantasmagórica do passado que insiste em assombrar as vítimas. A narrativa coloca em xeque a relação entre justiça e vingança, questionando se o ódio pode ser superado ou se ele está condenado a sobreviver junto à lembrança do trauma. 

    A comédia é usada para expor as contradições do pós-guerra e a impunidade de muitos criminosos nazistas que encontraram refúgio na América do Sul. Diferente de um humor que banaliza, Meu Vizinho Adolf busca um riso incômodo, que se sustenta na ironia da situação e na dinâmica entre os protagonistas. Udo Kier entrega uma atuação brilhante, equilibrando mistério e excentricidade, enquanto David Hayman traduz, com melancolia e fúria, o dilema de um homem cuja identidade foi moldada pela perseguição. 

    Entretanto, a leveza cômica do filme pode ser interpretada como uma forma de diluição da gravidade dos eventos históricos. Ao humanizar, ainda que sutilmente, a figura do possível Hitler, Prudovsky flerta (perigosamente) com uma narrativa que pode gerar desconforto entre aqueles que esperam uma abordagem mais dura. 

    Meu Vizinho Adolf é um filme interessante, que combina suspense e comédia para discutir temas profundos como trauma, ódio e perdão. Embora o uso do humor para tratar de um tema como o nazismo seja sempre um campo minado, o longa consegue equilibrar crítica e ironia, sem cair na banalização. No fim, a maior questão que Prudovsky nos deixa é: até que ponto é possível seguir em frente quando o passado nunca deixa de bater à porta?  

    Quem se interessou pode assistir na plataforma Prime Vídeo!

    O filme vale a pena e convida a uma profunda reflexão!

     

    Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP 

    Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB  

    Imagem: Internet