No último dia 1º de julho, o Plano Real completou 30 anos. Mais precisamente, em 1º de julho de 1994, o Brasil renovava suas esperanças na expectativa de conter a forte crise inflacionária. O caminho para a estabilização foi desenhado por meio da criação de uma moeda de transição, chamada Unidade Real de Valor (URV), um índice que variava diariamente, reajustado com o dólar. Para isso, foi essencial uma convergência de pensamento da classe política, que era muito diferente da composição de poder de hoje. Também foi crucial o apoio popular de uma sociedade já cansada das famosas máquinas de remarcar preços, visto que os valores dos produtos se alteravam diariamente. Naquela época, o país não contava com a fragmentação partidária que o Brasil tem hoje; o Partido dos Trabalhadores (PT) era a única agremiação de oposição. Isso facilitava muito os acordos. Além disso, o Congresso atual possui uma autonomia muito maior, seja no que diz respeito à verba para campanha, seja aos recursos de emendas. Diante desse cenário, a grande pergunta é: o Plano Real deu certo? Como podemos medir a taxa de sucesso dessa política após três décadas? A configuração final do Plano Real ficou sustentada por três pilares: câmbio flutuante, metas de inflação e o controle de superávit primário (gastar menos do que é arrecadado). De acordo com o economista e professor da Faculdade Republicana, Luis Fernando Mendes, a proposta é controlar o impacto que os gastos fiscais acabam desenvolvendo na atividade econômica. Desse modo, o superávit primário contribuiria para evitar um aumento excessivo da taxa de juros e, consequentemente, a pressão que seria percebida no câmbio. Para Luis, o Plano Real pode ser considerado uma estratégica econômica incompleta, pois, na verdade, tornou-se um plano monetário, com vistas a manter o poder de compra da moeda no curto prazo, por meio da alta na taxa de juros e da construção de um colchão de segurança por meio de commodities, tendo mais reservas do que o valor da própria dívida externa, com possibilidades reais de honrá-la. Para dar sustentabilidade a essa lógica monetária e afrouxar os arrochos nas taxas de juros e outros mecanismos, é necessária uma série de reformas. Havia uma expectativa dos próprios idealizadores de que essa seria a segunda etapa, no entanto, isso não aconteceu. Portanto, para afirmar que o Plano Real realmente deu certo e não apenas estabeleceu a contenção da inflação, foram necessárias grandes reformas, como a Reforma Tributária, que confeririam maior flexibilidade e diminuiriam os riscos que se refletem em forma de juros. Vale destacar, ainda, que a Reforma Tributária recém-aprovada pelo Congresso só chegou ao desfecho depois de 30 anos e estima-se que serão necessários ao menos mais 10 anos para sua implementação completa. Por fim, deve-se argumentar que o sucesso do plano virá com a implantação de outras reformas, como a do setor produtivo, a reforma administrativa e a trabalhista de fato.
Texto: Fábio Vidal