Os líderes brasileiros possuem uma grande responsabilidade nas mãos: renovar as regras da política com o objetivo de reconstruir a ponte entre as pessoas e a democracia.
A reforma política, chamada quase ordinariamente como a “mãe de todas as reformas”, na verdade, nunca foi levada muito a sério. Uma desculpa sempre usada para justificar isso é a de que cada partido e cada parlamentar tem lá o seu modelo ideal e fica praticamente impossível chegar a um consenso.
No entanto, desta vez, as pessoas estão dando um recado muito claro. Ou o mundo político se reinventa ou ele entra em colapso, levando a economia e a sociedade juntos com ele.
Uma diferença importante deste momento em comparação com outros em que a reforma política foi discutida é a sensibilidade muito grande das pessoas quanto ao preço que o mal funcionamento da política cobra da sociedade. A corrupção desenfreada custa empregos, adia desenvolvimento, cancela sonhos e mantém na miséria milhões de pessoas.
Portanto, é bom que os políticos não achem que desta vez acontecerá a mesma coisa do que ocorreu nas oportunidades anteriores. As pessoas não vão se esquecer. Não vão.
Muitos podem não ter notado, mas o Brasil está nas ruas desde 2013 de forma quase ininterrupta. Todas as tentativas de votar anistias, de criar controle sobre o ministério público e coisas afins foram rechaçadas prontamente pela rigorosa fiscalização da opinião pública.
É chegada a hora dos partidos de enfrentarem a realidade das ruas. Devem encarar com racionalidade os problemas revelados pela Lava Jato, as deficiências do nosso presidencialismo de coalizão, baratear o sistema eleitoral e priorizar medidas que melhorem a representação política.
Os partidos precisam ser honestos com as pessoas. Não no aspecto da ética apenas, mas na capacidade de conduzir uma discussão madura com a sociedade sobre adaptar o mundo da política às mudanças que já tomaram corpo. E é bom que os representantes já estejam avisados. Pode não haver uma outra chance.
Telma Franco – presidente da Fundação Republicana Brasileira