Luiz Gomes Jardim, advogado, mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília, professor de relações institucionais*
A vida nos leva por trajetórias, em que a todo o momento somos forçados a tomar decisões. Entretanto, decisões não têm sempre uma natureza derradeira. Há aquelas em que se decide o sabonete para o banho, mas também pode existir um tempo em que a pessoa tem dúvidas sobre qual caminho da vida seguir.
A decisão tomada em todos os momentos é sempre fundamentada na impressão que a pessoa tem da realidade. Algumas pessoas decidem como se não existisse o amanhã. Outras procuram tentar imaginar as consequências da decisão tomada e analisam prudentemente as opções.
As opções estão imersas em uma realidade, que se expressará, dependendo de como os valores da pessoa impactam a decisão a ser tomada. Há pessoas cujas decisões não se baseiam em valores reconhecidos pela maioria. Já existem aquelas, cujas escolhas se baseiam em uma ordem moral duradoura, que adere aos costumes, às convenções e à continuidade.
As opções de escolhas são apresentadas rotineiramente para todos nós. As novidades estão expostas para todos verem. Existem pessoas que mudam de atitude, apenas porque uma nova imagem encanta por parecer mais brilhante. Outras pessoas guardam certo ceticismo com o brilho da novidade. Consideram que não é por muita gente gostar que se deva acompanhar.
A partir dessas impressões, o senso comum cultural moderno leva as pessoas a estabelecerem rótulos para o comportamento. Se as pessoas se mostram descoladas, se dizem abertas a toda experiência, então, elas são pessoas modernas ou progressistas. Se outra apresenta certa desconfiança a respeito de experiências que ainda não foram testadas pelo tempo, então são consideradas atrasadas ou conservadoras.
Os conservadores transcendem muito esses rótulos. Se escolhesse um deles que mais representasse um conservador nos tempos atuais, esse seria o cético. Ceticismo não significa falta de fé. O ceticismo está no sentido de que experiências novas não possuem ainda a comprovação de validade pelo tempo.
Quando um conservador vê um cenário político, ele será cético com aqueles discursos que prometem o céu a um preço grátis; ou que propõe uma revolução permanente nos costumes sociais.
O conservador desconfia dos progressistas porque, quando buscam rotular o costume tradicional como atrasado, eles destroem mais do que imaginam. Abrem caminho para as disputas eternas de direitos, ainda que sejam de liberdade.
Embora a liberdade seja um valor inaugurado pelo cristianismo, a modernidade procura categorizá-la também como a permissão moral de viver uma vida promíscua. “A literatura e o senso comum comprovam que as relações sexuais entre homem e mulher sempre foram cheias de dificuldades, porque nós não somos apenas um ser biológico, mas um que carrega uma cultura. Os intelectuais do século XX buscaram libertar todas as relações sexuais de quaisquer obrigações sociais, contratuais e morais” (Dalrymple, 19p). O resultado disso em bairros de classes baixas da Inglaterra é que, por volta de 70% dos nascimentos nos hospitais públicos, são de filhos ilegítimos.
Muitos podem dizer que isso é uma consequência do exercício da liberdade. Em última análise, isso seria verdade; mas quando os progressistas desconsideram que a ordem vem antes da liberdade, ou que a ordem seria o limitador da liberdade, o que temos é a multiplicação de cracolândias.
O conservadorismo acredita que existe uma ordem moral duradoura, que deve concorrer com a liberdade. Ordem no conservadorismo não significa obediência cega. O significado está vinculado à harmonia. Tanto a harmonia interna – psicológica, quanto a externa, que está relacionada à comunidade política. O século passado representou a crença na falência da ordem moral. “A ruína de grandes nações no século XX mostra o abismo no qual caem as sociedades que confundem auto-interesse ou controles sociais engenhosos, com alternativas agradáveis a uma ordem moral ultrapassada”. (Kirk, 104p.)
Se você é cuidadoso com os passos que dá; se não desperdiça energia nem trabalho com algo em que não percebe crescimento, então você não é introvertido; você é um conservador.
Para quem quiser saber mais:
- COUTINHO, João Pereira, As Ideias Conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários – São Paulo, 2014
- DALRYMPLE, Theodore, A Vida na Sarjeta. São Paulo; É Realizações, 2014
- KIRK, Russell, A Política da Prudência; São Paulo; É Realizações, 2013.
- KRAMICK, Isaac, The Portable Edmund Burke; New York; Penguin Books Ltd, 1999.
*As opiniões correspondem ao autor do texto e não necessariamente expressam o posicionamento da Fundação Republicana Brasileira e do Partido Republicano Brasileiro