Dirigido por Leon Prudovsky, Meu Vizinho Adolf (2022) parte de uma premissa curiosa: e se um velho nazista fugido da Alemanha tivesse se instalado na América do Sul e, por ironia do destino, fosse reconhecido por um sobrevivente do Holocausto? O filme brinca com essa hipótese ao narrar a história de Marek Polsky (David Hayman), um idoso judeu solitário que vive na Colômbia de 1960 e se vê diante da possibilidade de ter Adolf Hitler como seu novo vizinho, Hermann Herzog (Udo Kier). A partir desse encontro, nasce um jogo de desconfiança, perseguição e, paradoxalmente, aproximação entre os dois personagens.
A escolha do humor como ferramenta narrativa para tratar de um tema tão denso como o nazismo não é inédita, mas é sempre um risco. Prudovsky aposta em um tom tragicômico que remete à obra A Vida é Bela (1997), de Roberto Benigni, ou à Jojo Rabbit (2019), de Taika Waititi, mas sem o mesmo apelo emocional. Em vez disso, o filme se apoia no sarcasmo e no absurdo da situação, explorando a paranoia de Polsky e a ambiguidade de Herzog, cuja real identidade permanece em suspense até o final.
O grande trunfo do filme é sua abordagem sobre memória e ressentimento. Polsky, marcado pelas cicatrizes do Holocausto, não consegue aceitar a possibilidade de um nazista escapar impune. Já Herzog, seja ele Hitler ou não, representa a presença fantasmagórica do passado que insiste em assombrar as vítimas. A narrativa coloca em xeque a relação entre justiça e vingança, questionando se o ódio pode ser superado ou se ele está condenado a sobreviver junto à lembrança do trauma.
A comédia é usada para expor as contradições do pós-guerra e a impunidade de muitos criminosos nazistas que encontraram refúgio na América do Sul. Diferente de um humor que banaliza, Meu Vizinho Adolf busca um riso incômodo, que se sustenta na ironia da situação e na dinâmica entre os protagonistas. Udo Kier entrega uma atuação brilhante, equilibrando mistério e excentricidade, enquanto David Hayman traduz, com melancolia e fúria, o dilema de um homem cuja identidade foi moldada pela perseguição.
Entretanto, a leveza cômica do filme pode ser interpretada como uma forma de diluição da gravidade dos eventos históricos. Ao humanizar, ainda que sutilmente, a figura do possível Hitler, Prudovsky flerta (perigosamente) com uma narrativa que pode gerar desconforto entre aqueles que esperam uma abordagem mais dura.
Meu Vizinho Adolf é um filme interessante, que combina suspense e comédia para discutir temas profundos como trauma, ódio e perdão. Embora o uso do humor para tratar de um tema como o nazismo seja sempre um campo minado, o longa consegue equilibrar crítica e ironia, sem cair na banalização. No fim, a maior questão que Prudovsky nos deixa é: até que ponto é possível seguir em frente quando o passado nunca deixa de bater à porta?
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O filme vale a pena e convida a uma profunda reflexão!
Texto: Arnaldo F. Vieira – Ascom Subseção/SP
Revisão: Tamires Lopes – Ascom FRB
Imagem: Internet