Tempo de plantar

Tempo de plantar

Pablo Neruda disse certa vez que somos livres para fazermos nossas escolhas, mas que, uma vez feitas, nos tornamos reféns das suas consequências. O poeta nada mais fez do que romancear o velho e conhecido ditado de que colhemos aquilo que plantamos, ensinamento que vale tanto para nossa trajetória individual quanto para nossa vida em sociedade.

Este ensinamento é extremamente válido para entender o nosso papel no atual momento histórico do nosso país. Explico: os brasileiros vivem um momento de grande desencanto com a política. Por exemplo, notícia veiculada a poucos dias alardeou que caiu pela metade o número de jovens filiados a partidos. Possivelmente, o principal motivo deste afastamento é a desconfiança alimentada pela sociedade em relação às suas instituições.

Por um lado, a desconfiança é justificada. Não tem sido nada fácil acompanhar os jornais hoje em dia, sempre recheados de novas denúncias que nem sempre encontram apuração e julgamento adequados por parte das autoridades encarregadas. No entanto, por outro lado, será que o afastamento das pessoas é realmente a saída?

A resposta é não. Vamos voltar ao ditado acima. O que de fato plantamos quando nos afastamos da política? E qual a colheita que vem dessa atitude?

Por mais motivos que tenhamos para nos distanciar da política, essa decisão não nos traz bem algum. Pelo contrário, o afastamento dos cidadãos de bem dá apenas mais oportunidades para aqueles que querem usar os recursos públicos em benefício próprio. Sem o olhar vigilante, os protestos e as contribuições, os homens e mulheres de bem se sentem abandonados e desestimulados e os maus ficam livres para fazerem o que bem quiserem.

Quando nos afastamos, plantamos abandono, leniência e complacência e, dessa forma, a colheita não pode ser boa. Não por acaso, Martin Luther King, um dos ativistas mais importantes da história, dizia que não se incomodava tanto com o barulho dos maus. O que o preocupava realmente era o silêncio dos bons.

É preciso quebrar o estigma de que a sociedade é vítima dos seus políticos e que não há nada que ela possa fazer a respeito. Política e sociedade são faces de uma mesma moeda e aspectos indissociáveis de qualquer país. Se um vai mal é porque o outro também não está bem.

Por isso, para termos instituições políticas mais próximas dos nossos ideais, com regras justas que valorizem e incentivem comportamentos de valor e premiem pessoas preparadas e responsáveis, é preciso plantar boas sementes na educação das famílias, no comportamento cotidiano, nos discursos e nas práticas, na relação com o voto e depois na interação com os eleitos. Para colher os bons frutos da boa política, é preciso plantar hábitos cívicos. E essa responsabilidade é totalmente nossa.

Paulo Cesar Oliveira – Presidente da Fundação Republicana Brasileira

 

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