Para fazer bem feito

Para fazer bem feito

Esqueça a ideia de que problemas complexos podem ser resolvidos com soluções simples. Não podem.

A ferida aberta da política brasileira não é de fácil cicatrização e não vai ser curada por uma reforma política, por outra eleição ou pela cassação ampla, geral e irrestrita.

Ela é muito mais profunda e trabalhosa, pedindo o compromisso de mais de uma geração. Não se trata apenas de uma crise, mas de várias delas, todas embrulhadas em velhos hábitos, como patrimonialismo, corrupção, baixa qualidade do voto e populismo, por exemplo.

Entretanto, agora, a elite política brasileira não poderá repetir a velha fórmula de sempre, qual seja, de oferecer os anéis para conservar os dedos.

O Brasil atingiu um ponto de intolerância tal que não há retorno: ou se muda de verdade ou permaneceremos em crise. E só existe mudança sustentável quando ela é proporcionada pela sociedade.

O que está em jogo, portanto, não se resume apenas em ter representantes honestos ou um sistema eleitoral X ou Z. Mais do que isso, devemos avançar pelos pactos sociais mais básicos, pela fixação de valores, direitos e deveres fundamentais.

Por exemplo, qual a melhor aposentadoria que nós somos capazes de pagar? Como deve ser a representatividade política da sociedade? Até onde o Estado deve avançar na vida do cidadão? A partir de onde o indivíduo tem que se virar sozinho? Qual o nível mínimo de igualdade que temos que ter?

O Brasil tem que definir e cumprir bem, pelo menos, suas tarefas básicas. Querer tudo sem ter condições de fazer tudo significa não ter compromisso com as coisas. O tamanho da nossa ferida sugere um olhar sobre as nossas raízes. Fazer menos do que isso vai apenas perpetuar aquilo que não nos faz bem.

Telma Franco – presidente da Fundação Republicana Brasileira (FRB)

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