Choque: esta é a melhor palavra que encontrei para descrever o sentimento que tive quando vi o muro construído para separar os manifestantes pró e contra o impeachment em Brasília.
Quem conhece um pouco de história sabe bem o conteúdo simbólico negativo dos muros. Eles separaram o mundo em Berlim durante a Guerra Fria, isolam judeus e palestinos em Israel nos dias presentes e ameaçam fraturar a fronteira entre EUA e México sob o pretexto de coibir a imigração ilegal.
E como isso foi acontecer logo aqui, em Brasília?
Sem perceber, erguemos um muro entre nós, com resultados perversos para todos. A divisão só leva a um diálogo de surdos. Ninguém ouve as propostas do outro, ninguém coopera, ninguém faz nada. Todos ficam apenas com a sua versão dos assuntos, criando um ambiente estéril para o desenvolvimento coletivo.
Como a nossa recessão econômica está aí a mostrar, é impossível para um país crescer sem diálogo. Sem capacidade de definir uma direção, ficamos paralisados no meio da chuva. Propostas não são aprovadas, não há sugestões nem debates. Existe apenas o deserto dos projetos individuais de poder.
Ao final da votação, o muro da Esplanada será desmontado. Mas e as barreiras entre os brasileiros, também cairão? É preciso superar as divisões políticas recentes e não nos isolarmos em polos ideológicos. A diferença de opiniões sempre será saudável e desejável, desde que se tenha uma atitude de busca da convergência e da construção do consenso.
Acima de tudo, somos brasileiros e o desejo comum de buscar o bem deve prevalecer. Se há discordância a respeito dos caminhos que devem ser trilhados até chegarmos lá, que as pessoas saibam conviver com tolerância e disposição para convencerem e serem convencidas. Eis aí a essência da democracia.
Paulo Cesar Oliveira – presidente da Fundação Republicana Brasileira (FRB)